São Paulo, domingo, 4 de dezembro de 1994
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Líderes da Camorra são procurados hoje no Brasil

CLAUDIO JULIO TOGNOLLI
ENVIADO ESPECIAL A NÁPOLES

Os dois principais líderes da Camorra, a máfia napolitana, são hoje procurados no Brasil. Sob eles pesa a acusação de terem estabelecido novas rotas internacionais de tráfico de cocaína, que começam na Colômbia, passam pelo Brasil e convergem para a Europa.
A informação foi transmitida à Folha por Antonio Borrelli, chefe da "Squadra Mobile" –polícia de elite italiana encarregada de promover investigações contra a máfia napolitana.
Os "camorristas" Pasquale Scotti e Filipo Abate estariam transitando na América Latina para "lavar dinheiro" da organização. "Lavagem" é o termo empregado para a conversão de narcodólares em propriedades, carros, ouro e bens de consumo.
"Os mafiosos estão fugindo para o Brasil, Colômbia e Venezuela, para investir dólares e estabelecer novas rotas de tráfico", disse Antonio Borrelli. Essa prática foi adotada porque aumentou o volume de narcodólares apreendidos pela polícia italiana.
Em 1990, por exemplo, os cerca de 20 mil mafiosos existentes na Itália arrecadaram US$ 17 bilhões. A Squadra Mobile confiscou 10% desse valor e os italianos começaram a sair do país.
Dois chefes da Camorra foram presos em flagrante, no Brasil, nos últimos dois anos, acusados de tráfico de cocaína: Renato Filipini e Paolo Sorpreendenti.
Diz Antonio Borrelli que, para fugir do fisco italiano, os mafiosos têm preferido investir, agora, em restaurantes chineses. "É uma fachada para esconder os pontos internacionais de tráfico".
Além disso, "os camorristas têm dado preferência para as cidades brasileiras banhadas por mar, onde gostam de comprar imóveis", revela Borrelli.
A informação de que os dois mafiosos teriam vindo ao Brasil foi repassada ao policial italiano pelo mafioso Raffele Cutolo, preso em Nápoles. Depoimentos com delações reduzem, na Justiça italiana, as penas dos réus delatores.
Pasquale Scotti e Filipo Abate são responsabilizados diretamente por 340 mortes ocorridas em Napoli entre 1980 e 1985, disse à Folha Claudio Sposito, responsável pelas operações de campo da Squadra Mobile.
Pasquale Scotti, que tem 36 anos de idade, é responsável pela criação de um grupo mafioso chamado "Nuova Famiglia" (nova família), em 1978. Ele estaria transitando entre o litoral de São Paulo, o Rio de Janeiro, Colômbia e Venezuela.
A "Nuova Famiglia" é a organização italiana hoje responsável por manter contatos com o Cartel de Medelin, a máfia internacional do tráfico de cocaína. Estima-se que, com a ajuda da Máfia, os cartéis estejam remetendo ao exterior, por ano, algo em torno de US$ 200 bilhões, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU).

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