São Paulo, domingo, 4 de dezembro de 1994
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Preço da cocaína sobe até 60% em SP

PAULO FERRAZ
DA REPORTAGEM LOCAL

O preço da cocaína em São Paulo subiu quase 50% no atacado e mais de 60% no varejo nos últimos 15 dias.
O aumento, segundo traficantes e policiais, foi causado pelas operações de combate ao tráfico deflagradas no Rio, Paraguai, Bolívia, Colômbia e em algumas cidades brasileiras de fronteira.
Em São Paulo, os traficantes estão comprando o quilo da cocaína por R$ 5.000. Quinze dias atrás, a mesma quantidade custava cerca de R$ 3.500.
No varejo, para os usuários, o papelote com 2 g da droga está sendo vendido por até R$ 25. Antes das operações policiais, o preço máximo cobrado pela mesma quantidade não ultrapassava R$ 15.
Para o traficante Mozart Godinho de Oliveira, 39, a "Operação Rio" e o aumento do policiamento nas fronteiras diminuiu a quantidade de drogas na cidade, mas também tem sido usada como "medida inflacionária".
"Falta realmente cocaína no mercado, mas não tanto para causar um aumento de preço tão grande. Os distribuidores estão se aproveitando de toda essa propaganda de repressão para jogar o preço lá em cima", diz Oliveira, preso na semana passada.
Segundo os policiais do Denarc (Departamento Estadual de Investigação sobre Narcóticos), Oliveira foi pego em flagrante com 0,5 kg de cocaína.
Rui Fontes, 33, titular da 1ª Delegacia do Denarc, acredita que o aumento do preço da cocaína vem da operação deflagrada sob a coordenação da DEA (Drugs Enforcement Administration) na Bolívia, Paraguai e Colômbia.
Essa operação, diz o delegado, seria uma forma de apoio à intensificação no combate ao tráfico nos morros do Rio. "Diminuiu muito a quantidade de droga, principalmente cocaína, na cidade", diz Fontes.
"Viciado não se preocupa com preço. Na hora da 'fissura' (vontade incontrolável de consumir droga), ele paga o que a gente pedir", afirma Oliveira.
Oliveira traficava drogas havia sete meses e foi preso após ter sido delatado. "Os concorrentes acham que eu estava começando a crescer e me entregaram."
Ele tem uma pequena empresa de pintura de faixas, painéis e letreiros na Bela Vista (centro de São Paulo), mas usava uma pensão para traficar cocaína. Ele guardava a droga em sua casa, na favela Paraisópolis, no Morumbi (zona sul).
OLiveria diz que "seus clientes" não terão dificuldades para encontrar outros fornecedores. "O centro é um dos maiores pontos de tráfico da cidade. Os mesmos concorrentes que me entregaram vão passar a vender para o pessoal que comprava de mim", disse.

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