São Paulo, domingo, 4 de dezembro de 1994 |
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Êxito profissional depende da empregabilidade
DENISE CRISPIM MARIN
Todo profissional deve manter sua empregabilidade, ou seja, desenvolver capacidades e habilidades exigidas pela função que ocupa ou que pretende ocupar. Essa é uma tarefa que independe do fato de o profissional possuir um posto na empresa, carreira sólida ou estar desempregado. Também não deve ser investimento único do funcionário, mas preocupação partilhada pelas organizações, sindicatos e governos. Esse raciocínio foi apresentado na semana passada por Marshall Goldberg, 55, especialista norte-americano em empregabilidade, durante palestras a empresas e aos funcionários da Rhodia do Brasil. Há 18 anos Goldberg estuda o conceito de empregabilidade, desenvolve treinamentos –inclusive programas de alfabetização– e estimula parcerias entre empresas e sindicatos para o aperfeiçoamento dos trabalhadores. Desde 1987, Goldberg é diretor-fundador da "Alliance for Employee Growth and Development" (Aliança para o Crescimento e Desenvolvimento do Emprego). Trata-se de uma joint venture entre a AT&T e sindicatos de trabalhadores em telecomunicações que movimenta um orçamento de US$ 22 milhões e já treinou mais de 90 mil profissionais. A seguir, alguns trechos da entrevista de Goldberg: Folha - Gostaria que o senhor apresentasse o conceito de empregabilidade. Mashall Goldberg -No mundo todo, o capital flui para qualquer canto imediatamente e o aperfeiçoamento do trabalhador está se tornando uma tarefa essencial. Precisamos, então, ajudar o profissional a desenvolver habilidades e qualificações que não sejam importantes só para o trabalho atual, mas também para muitos empregos futuros. A habilitação do trabalhador –sua empregabilidade– tornou-se fundamental para o desenvolvimento econômico do país. É fundamental também para a sobrevivência do profissional no mercado de trabalho? A empregabilidade fornece ao profissional a capacidade para encontrar novos empregos. À medida que as empresas entrarem em expansão ou reduzirem suas atividades, o trabalhador terá que se adaptar a novas carreiras, empregadores e mercados. Ele não vai mais ter apenas uma carreira durante sua vida profissional, mas sete ou oito carreiras. Quais são as habilidades mais exigidas atualmente? Goldberg - Nós identificamos algumas delas. A busca de maior qualidade para o produto e a sensibilidade para entender e atender o cliente, por exemplo, são habilidades não ensinadas nas escolas. As pessoas mais próximas dos clientes precisam aprender a resolver problemas, não apenas seguir instruções. Elas têm que se comunicar com gerentes e clientes –e a comunicação verbal e escrita é uma das habilidades mais críticas. A tomada de decisão, a capacidade de pensar de forma crítica e a resolução de problemas são fundamentais para o sucesso de um profissional dentro da empresa. A capacidade de trabalhar em equipe é outra habilidade básica. Folha - Como o aprendizado dessas habilidades chega aos níveis operacionais? Goldberg - Esse aprendizado se torna cada vez mais fundamental para o chão de fábrica. As pessoas mais próximas da produção são as que lideram, por exemplo, os programas de qualidade. Os programas de qualidade e de empregabilidade focalizam, em geral, o trabalho de operários, de técnicos, pessoal de vendas e marketing –profissionais que estão mais próximos dos clientes e sem os quais não há negócio. Folha - Como está sendo feito isso nos EUA? O governo tomou iniciativas para promover a habilitação das pessoas? Goldberg - Várias leis relativas à formação de trabalhadores foram aprovadas no Congresso nos últimos cinco anos. Uma delas criou os programas de alfabetização no local de trabalho, que também ensina uma gama de habilidades básicas. O governo norte-americano também destinou US$ 1 bilhão para organizações locais de formação e apoio a profissionais. Esses recursos foram empregados em programas de habilitação de trabalhadores qualificados que foram demitidos. Folha - E como atuam os sindicatos na capacitação dos trabalhadores? Goldberg -Os sindicatos têm assumido um papel importante na habilitação de profissionais nos últimos 15 anos. As habilidades dos trabalhadores, embutidas nos produtos e serviços, implicam aumento de salários. Folha - Existe chance para o trabalhador desqualificado? Goldberg - Eu acredito que existe chance para todos os seres humanos. Vou dar um exemplo que nunca esquecerei. Uma das operadoras de telefonia na AT&T era uma mãe solteira, com sete filhos, e sabia que seu cargo seria eliminado. Ela tomou a decisão de passar pelo planejamento de carreira e retomou os estudos para concluir o segundo grau. Depois ela desencadeou um plano de longo prazo, com o objetivo de abrir um negócio próprio. Fez um curso superior de dois anos e agora abriu uma creche. Folha - O ideal é planejar a carreira e se tornar "empregável" antes de procurar um novo trabalho? Goldberg - Isso deve começar já na escola, bem antes de as pessoas entrarem no mercado de trabalho. Já existem escolas-piloto de primeiro e segundo graus em alguns Estados norte-americanos preocupados com isso. Folha - Mas ainda é comum o planejamento de carreira ocorrer depois da demissão. Goldberg - Empregabilidade é fazer o planejamento da carreira bem antes da mudança. As pessoas não podem controlar a inflação ou a concorrência mundial. Mas algumas coisas elas conseguem, como educação, aprendizado e planejamento. Os profissionais devem se preparar para conquistar novas oportunidades a qualquer momento. É o exemplo dessa operadora de telefonia, que agora tem uma chance. A mudança é uma oportunidade. Ela só é um desastre quando o profissional tem poucas habilidades e não tem nenhum plano. 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