São Paulo, domingo, 4 de dezembro de 1994 |
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Dioxina é tóxica para governo dos EUA
JOSÉ REIS
Naquela oportunidade representantes da EPA, órgão que cuida da proteção ambiental no país, divulgaram os resultados da reavaliação a que submeteram essa questão. Aquela agência federal praticamente confirmou sua antiga conclusão de ser a dioxina muito tóxica para nossa espécie. Dioxina é um contaminante do chamado "agente laranja", desfolhante largamente usado pelos Estados Unidos na guerra do Vietnã. A divulgação de seus efeitos nocivos à saúde pública despertou grandes reivindicações entre os combatentes expostos ao desfolhante que depois vieram a adoecer e exigiram indenizações pelos males alegadamente decorrentes da exposição. A dioxina, na verdade, não é um composto único, mas representa uma superfamília de compostos químicos sintéticos, o mais importante dos quais é o TCDD ou dioxina clorada. Resídios de dioxina encontram-se em quantidades mínimas no ar, no solo e na água. O TCDD é muito tóxico para animais de laboratório, sendo a cobaia a espécie mais sensível e o hamster a mais resistente. A toxicidade varia muito de uma espécie para outra. Na espécie humana descreveram-se sintomas essencialmente agudos, como o cloracne, perturbações digestivas, defeitos em algumas enzimas fundamentais, dores musculares e articulares, efeitos no sistema nervoso e psiquiátricos. Mas essas manifestações, exceto alguns casos de cloracne, costumam ser transitórios. Notam-se situações crônicas em roedores e primatas não humanos, como fenda palatina e anomalias renais em prole de camundongos. Segundo F.H. Tschirley, é carcinogênica em ratos e camundongos. Durante muitos anos a EPA sustentou que a dioxina é tão perigosa que em hipótese alguma seres humanos deveriam ser expostos a ela. Uma única molécula do produto poderia ser nociva. Em 1976, Alan P. Poland descobriu o receptor celular ao qual se prende a dioxina, e com isso surgiram dúvidas quanto ao quadro tóxico, dada a possibilidade de ser necessário certo número de moléculas dioxínicas para ativar o receptor e, também, certo número de receptores para causar efeito deletério. Essas dúvidas levaram a EPA a empreender ampla revisão dos riscos da dioxina para o organismo humano. Na reunião anual, Linda Birnbaum, especialista no assunto, adiantou alguns resultados dessa reavaliação, que sustentam a posição inicial da EPA. Os novos dados foram confirmados por Ulf Ahlborg, toxicologista do Instituto Karolinska, na Suécia. Para ele os dados apresentados agora não apóiam a idéia da existência de um limiar geral para os efeitos da dioxina. Acreditam os especialistas que os receptores da dioxina (receptores Ah) podem variar de função conforme o tecido em que se acham. Em animais, pelo menos, o composto pode concentrar-se em determinados órgãos como tireóide, adrenais, pele, fígado e gordura em geral. Birnbaum fala de efeitos cumulativos semelhantes aos da dioxina, causados por substâncias, também tóxicas, que se prendem aos mesmos receptores. Por isso o EPA estaria atribuindo àqueles compostos de ação semelhante à da dioxina o que chama de fatores de equivalência tóxica (TEFs), que podem aumentar de muito o risco da dioxina. Para exemplificar, basta lembrar que a população dos Estados Unidos tem em média sete partes por trilhão (ppt) de dioxina na circulação sanguínea. Somando-se a essa quantidade as doses relativas aos TEFs, inclusive os compostos dibenzofurânicos e outros que agem sobre os receptores, pode-se obter a cifra de 50 ppt, índice preocupante, conforme disse aquela especialista a Richard Stone em Science (260, 31). Texto Anterior: Entenda a condenação Próximo Texto: O passo em falso de Einstein Índice |
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