São Paulo, domingo, 4 de dezembro de 1994
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Economia das redes afeta política e cultura

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Ainda é cedo para dizer se e como Clinton entrará para a história. Mas um de seus assessores já tem lugar garantido na história das idéias. Trata-se de Robert B. Reich, ocupando o Ministério do Trabalho. É um dos assessores que vê futuro na aplicação de uma política industrial aos EUA.
Reich alerta para o surgimento da rede global ( global web), a miríade descentralizada de grupos e subgrupos econômicos conectados por todo o mundo. Para sobreviver, as empresas devem passar da produção de altos volumes para a produção de alto valor.
Os mercados tornaram-se cada vez mais extensos e diversificados. Assim, a fronteira econômica desloca-se da produção de aços para a de aços especiais ou, num exemplo da indústria química, os lucros estão nos produtos altamente diferenciados (química fina). É o oposto da massificação típica da produção em grande escala.
Reich refere-se a um mundo que é descrito por Stan Davis e Jim Botkin no último número da Harvard Business Review: o mundo em que as fronteiras do crescimento econômico são vencidas por negócios intensivos em conhecimento ( knowledge-based business).
Um pneu que informa a pressão do ar no seu interior ou roupas cuja temperatura se altera de acordo com o ambiente são exemplos da nova economia. Tanto para produzir como para consumir é preciso estar informado, passar por um aprendizado contínuo.
É necessário tanto gerar consumidores (criando empregos) quanto assegurar que eles sejam educados e informados. A cultura é essencial na "rede global".
A empresa de alto valor não pode ser organizada como as antigas pirâmides: trabalho mecânico e embrutecido, repressão, hierarquias enormes e incontáveis exércitos de trabalhadores.
Hoje o importante é identificar e resolver problemas. Isso depende da construção de redes de comunicação mais ágeis e sofisticadas.
O "team work" (trabalho em equipe) torna-se fundamental. As soluções estratégicas são encontradas através de processos interdepartamentais e interdisciplinares.
Em oposição ao mundo velho onde importavam hardware (infraestrutura) ou software (organizações padronizadas), emerge a economia de conhecimento, knowledge-ware ou know-ware.
Essa economia é intensiva em tecnologia. O mais importante, entretanto, é menos visível: a transformação na ordem social e política, a formação de redes através das quais a informação flua livremente. Ou seja, em que não exista um centro fixo.
O centro pode estar em qualquer lugar. O know-ware é também nowhere (lugar nenhum): o espaço é virtual e o que interessa é estar on-line, em tempo real. Todas as direções são possíveis, se o organismo social tiver agilidade e flexibilidade suficientes.
É impossível reduzir essa economia em redes de conhecimento compartilhado a algo mecânico e determinado. Daí a relevância da política, que muita gente pensava abolida pela tecnologia.
Fazer política, por exemplo política industrial, é produzir informação relevante para a tomada de decisões empresariais. Ao mundo global associa-se, portanto, uma nova economia política das redes.

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