São Paulo, domingo, 4 de dezembro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Carro e bicicleta disputam ruas de Pequim

JAIME SPITZCOVSKY
DA PEQUIM

Pequim, metrópole da maior revolução capitalista do século, se agita também com um implacável conflito em suas ruas.
Um moderno batalhão de 800 mil carros disputa espaço com um aguerrido e numeroso exército de 8 milhões de bicicletas.
Os tentáculos do PC (Partido Comunista), quase onipresentes na China, não conseguem disciplinar a convivência entre motoristas e ciclistas.
Podem exigir o registro do cachorro de estimação na polícia ou uma chapa em cada bicicleta, mas fraquejam na hora de colocar ordem no trânsito caótico da capital.
As ciclovias existem nas principais artérias de Pequim. Elas chegam até a dar um ar de organização para o trânsito. Mas não é bem assim.
As bicicletas cruzam as avenidas sem qualquer cerimônia e alguns, mais confiantes em suas habilidades sobre duas rodas, costuram entre os carros que costumam lotar o asfalto.
Com a chegada do capitalismo sob controle do PC, os chineses ingressam no mundo do consumo e os carros despontam, como sempre, na qualidade de estrela, entre os símbolos de riqueza.
Veículos importados deslizam por Pequim, ao lado de Santanas e Audis já produzidos na China.
Logo Pequim terá 1 milhão de carros, prevê Yu Chunquan, vice-diretor do Departamento de Controle de Tráfego da capital.
Para dar uma idéia do ritmo de crescimento, ele tira da gaveta uma estatística do mês passado.
No Terceiro Anel, uma das vias que circundam o centro, passam 10 mil carros por hora, enquanto a cifra atingia 4 mil em 1992.
No ano passado, Pequim, uma cidade com cerca de 10 milhões de habitantes, ganhou mais de 100 mil carros em seu trânsito.
A enxurrada coloca anualmente nas ruas cerca de 100 mil motoristas despreparados.
Em Pequim, é praticamente impossível testemunhar um carro dando passagem para outro.
Os veículos chegam a andar colados no da frente para impedir que um aventureiro vindo de outra pista ganhe a dianteira.
Em 1985, as autoridades chinesas se assustaram ao fechar o balanço no final do ano em Pequim. Haviam morrido em acidentes de trânsito 759 pessoas.
A polícia de trânsito apertou o cerco e passou a multar mais. Em 1990, o número de vítimas fatais caiu de 447 e neste ano, espera-se também cerca de 400 mortos, conta Yu Chunquan.
Mas a guerra entre motoristas e ciclistas continua sem solução. As bicicletas são um fator fundamental entre as causas de acidentes de trânsito, afirma Yu Chunquan.
A audácia dos ciclistas se acentua na hora de congestionamento. As ruas mais estreitas do centro de Pequim são tomadas de assalto pelas bicicletas, que impõem a sua velocidade a todo tráfego.
Nas ruas mal iluminadas, durante a noite, os motoristas são obrigados a fazer verdadeiras manobras radicais para evitar os choques com as bicicletas que insistem em rodar pelo meio da rua.
E em caso de acidente, o dono do carro deve se preparar para enfrentar a fúria de uma turma de ciclistas. Estes são extremamente solidários entre si.

Texto Anterior: Economia das redes afeta política e cultura
Próximo Texto: Chega a 37 número de mortos nas Filipinas; Descarrilamento mata 29 pessoas na Hungria; Clinton quer Salinas na Presidência da OMC; Taiwan tem primeira eleição para governo; Polícia francesa detém presidente da Alcatel; Passageiros do Achille Lauro chegam a Djibuti; Bomba mata 1 e deixa 17 feridos na Turquia; Chefe da Máfia é preso em Palermo, na Sicília
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.