São Paulo, domingo, 4 de dezembro de 1994
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Jornal e cidadania; Morros cariocas; Doações da Odebrecht; Monopólio da Petrobrás; Brinco de Bruno

Jornal e cidadania
"Um jornal a serviço do Brasil. É bom ser leitor e assinante da Folha. Fico pensando na diferença entre esse e os outros jornais. E a cada dia tenho a satisfação de perceber o seu enfoque múltiplo e democrático, reforçando e, o mais importante, ampliando sempre a noção de cidadania."
Luiz Cesar Fernandes da Costa (Campos, RJ)

Morros cariocas
"Aproveito deste espaço para recordar da linda campanha eleitoral, realizada pelo então candidato ao governo do Estado do Rio de Janeiro, o jornalista Fernando Gabeira, no ano de 1986. O momento mais marcante desta campanha foi o abraço à lagoa Rodrigues de Freitas. Gostaria de conclamar todos aqueles que durante anos se beneficiaram dos morros cariocas –poetas, intelectuais, políticos, músicos, artistas e a população em geral que brilham os olhos ao ver os lindos desfiles de carnaval exibidos pelos humildes moradores destes morros– a juntos promoverem o abraço aos morros cariocas. Começando pela Mangueira e depois para todos os outros morros."
Jocimar Alves Borges (Olinda, PE)

"Assim como o poderoso exército americano não conseguiu vencer os guerrilheiros vietcongues, nem o israelense a intifada, ou mesmo quando os marinheiros ingleses ou portugueses bem armados eram vencidos pelos capoeiras seminus no Rio de Janeiro do início do século, o combate entre a organização hierárquica e unívoca contra o adversário equívoco e esquivo é mais complicada que o simples confronto entre suas respectivas potências de fogo pode fazer supor."
Isaac Epstein (São Paulo, SP)

"Mal iniciava o Exército a sua subida aos morros cariocas, a OAB já aparecia se incomodando com o fato. Mas, domingo passado, pesquisa Datafolha, já comprovadamente merecedora de crédito, divulga que 80% dos moradores de favelas defendem a continuidade da ação militar. Não dá para deixar de concluir que a OAB está, mesmo, é preocupada com os marginais."
Roberto Antônio Cera (Piracicaba, SP)

"O emprego do Exército no combate ao narcotráfico urbano é absolutamente inócuo, porque lhe faltam os meios adequados. Não faz sentido entrar com tanques de guerra no morro carioca para caçar traficante miúdo. É, isto sim, ridículo."
Norberto de Vivo (São Paulo, SP)

Doações da Odebrecht
"Não é verdade que a Odebrecht se sente constrangida de ter contribuído legalmente para as campanhas realizadas pelos partidos políticos, como consta na reportagem publicada dia 2/12, pág. 1-6, 'OAS e Odebrecht fizeram doações ao PT'. 1) A Odebrecht decidiu, através de suas empresas, de forma clara, dar a sua contribuição legal e oficial ao processo eleitoral passado, com o objetivo de fortalecer o sistema democrático e estimular o livre debate de idéias. Não há razão, portanto, para que nos sintamos constrangidos, da forma pela qual a reportagem coloca. 2) O constrangimento, ao qual nos referimos durante a entrevista, se deve ao fato de que, pressionados pela imprensa, não nos cabe revelar tais contribuições, como ocorre quando se faz alguma doação, pois é de responsabilidade pública e legal dos partidos prestar estes esclarecimentos. 3) Quanto aos contatos realizados com o PT, esclarecemos que tendo as empresas da organização Odebrecht, CBPO e CNO, atuação em todo o território nacional, os mesmos foram realizados de forma aberta e em várias regiões do país, a respeito das diversas campanhas eleitorais. Quando a Folha de S. Paulo escreve a expressão 'teve de tudo' para caracterizar esses contatos, dá margem a interpretações das mais variadas, fato com o qual não podemos absolutamente concordar."
Cesar A. V. Castro, diretor de Relações Institucionais da CBPO –Companhia Brasileira de Projetos e Obras (São Paulo, SP)

Resposta do jornalista Clóvis Rossi – O texto publicado deixa claro que o "constrangimento" da CBPO se deve exatamente ao fato de se ver obrigada a responder sobre uma doação, quando a empresa acha que quem deveria falar a respeito é o receptor e não o doador. Sobre a expressão "teve de tudo" foi a resposta literal de Cesar A. V. Castro quando perguntado se houvera contatos da CBPO com a campanha presidencial do PT.

Monopólio da Petrobrás
"Depois de tantos privilégios, o que mais os marajás da Petrobrás andam querendo? Eles precisavam explorar mais petróleo e parar de explorar os brasileiros. Concordo com o ministro do Trabalho: o Brasil precisa rever o monopólio do petróleo."
Patrícia Coutinho Nunes da Silva (Belo Horizonte, MG)

"Os grandes beneficiários desse monopólio sempre foram a privilegiada casta dos petroleiros. Os petroleiros e o monopólio estatal tornaram-se um caso de segurança nacional. Tal monopólio deve ser quebrado, extinto o quanto antes!"
Antonio Donatz Ribeiro da Silva (Curitiba, PR)

"A procura de parceiros (minoritários, claro) do setor privado pela Petrobrás é uma cínica manobra para evitar concorrência e para proteger as mordomias dos seus marajás e marajazinhos."
Hanns John Maier (Ubatuba, SP)

Brinco de Bruno
"Tenho 50 anos e uso brinco desde os 38. Na minha infância, o 'look' de todos era rigidamente regulamentado. Os meninos deviam manter a cabeça raspada com discreto topete até os 8 anos; e raspada só atrás e nas laterais até os 12 ou 13. Calça comprida antes dos 11, nem pensar. Essas convenções foram sugadas pelo tempo sem deixar vestígios. É inacreditável que, na borda do século 21, certas pessoas se agarrem a regras que todos esquecerão dentro de alguns anos, como se fossem a própria âncora da condição humana. Vivemos gravíssimos problemas na hora atual. As convenções têm a ver com a identidade das pessoas, mas não passam de convenções, e como tais devem ser tratadas. Precisamos distinguir o essencial do secundário, para não cairmos em novas –e supérfluas– dilacerações."
Renato da Silveira, professor da UFBA –Universidade Federal da Bahia (Salvador, BA)

"Tenho uma receita infalível para mãe que não tem o que fazer e quer aparecer: dê a seu filho, homem de seis anos, um par de brincos esperto; dê também uma pulserinha para colocar no tornozelo; acrescente em sua merendeira um baton 'boca-louca'; matricule-o em uma escola tradicional e conservadora (aquela lá do Morumbi não vale). Espere dois dias e observe o resultado. Se achar muito demorado, acrescente na receita um repórter desocupado."
Otto Triebe de Mello (São Paulo, SP)

"'Não há educação do medo... A educação não é um processo de adaptação do indivíduo à sociedade... A educação deve ser desinibidora e não restritiva...'. São palavras sábias do mestre Paulo Freire, as quais dão bem o entendimento a que se propõe aquela Escola Morumbi, que proibiu criança de usar brinco, inclusive, desrespeitando norma do Estatuto da Criança e do Adolescente. Parabéns aos pais de Bruno pelo belo artigo 'Barulho por uma boa causa', publicado no dia 28/11."
Marcos Antônio da Rocha (Sertãozinho, SP)

"Imagine se aquelas mães que apoiaram o colégio Morumbi, contra o fato de o menino Bruno, de seis anos, usar brinco, também não pudessem mais, por exemplo, serem 'loiras'. Já pensou a desgraça em que cairiam? Por favor, senhoras, oxigenem a cabeça. Existem causas mais nobres para abraçar. Basta olhar em volta."
Juão França Viana (São Paulo, SP)

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