São Paulo, domingo, 4 de dezembro de 1994
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DESENVOLVIMENTO

Já passou por privações? "Não. A minha família é de classe média baixa. Estudei em escola pública, fiz o ginásio junto com as pessoas mais pobres da minha cidade, mas nunca me faltou nada. Nunca tive luxo"
Brincadeira preferida quando menino: "Fiz muita coisa. Natação, judô, futebol, voleibol... Talvez futebol fosse o mais interessante"
Uma fantasia infantil: "Ser astronauta"
O senhor se relaciona melhor com sua mãe ou seu pai? "Sou mais identificado com meu pai, mas mais protegido pela minha mãe"

EXAME
Um grande arrependimento: "Quando comecei na vida pública abri mão de uma série de coisas que pessoas de 24 anos fazem. De vez em quando sinto falta disso. Mas se me arrependo? Não, porque eu abri mão para assumir responsabilidades, para ser referência de algumas pessoas que votavam em mim, ou para cumprir a majestade dos cargos que ocupei. Hoje, em alguns momentos, eu penso –nunca mais eu vou ter 24 anos de novo. Nunca fiz aquelas coisas que alguém de 24 anos pode, deve e está autorizado a fazer. Isso me dá um certo arrependimento. Mas, voltando atrás, o que eu faria? A mesma coisa de novo. Você não pode fazer tudo"
Como lida com a frustração? "Como regra, eu me aborreço muito e fico muito triste. Aí gosto de me recolher, não falar com ninguém, ficar ali uma hora, duas ou três, ou um dia remoendo, fazendo avaliações, por que foi, por que não foi. Hoje, cada vez menos eu posso fazer isso"

GLÓRIA
O senhor se considera vaidoso? "Eu não seria honesto se dissesse que não tenho vaidade nenhuma, mas tenho muito cuidado em não deixá-la ultrapassar um certo ponto em que ela me ajuda. Deputado aos 24, deputado de novo aos 28, 30 anos prefeito, 32 governador. Muita bajulação e poder, glória. Eu tomo cuidado quanto a essas vaidades. Tenho outras vaidades mundanas, enfim, não gosto de barriga. Tomo cuidado. essa bobagem aí é boa para a auto-estima, que bem regulada ajuda a ser mais positivo na vida"
É centralizador? "Sou, na avaliação e no controle, mas totalmente descentralizador na delegação de tarefas. Meus governos todos são assim. Eu digo como gostaria que fosse, acompanho como está sendo feito e quero o resultado. Mas confio totalmente em quem vai fazer"
O que acha de sair na revista "Times" como um dos cem líderes mundiais na faixa de 30 anos que tem se destacado? "É aquela coisa da dosagem correta da auto-estima. Claro que é uma coisa muito estimulante, mas eu atribuo isso ao esforço coletivo feito lá no Ceará. Um pouco eu sou premiado por uma obra de muitas pessoas. Fui um membro do grupo. Isso, muito honestamente, começa com o Tasso (Jereissati). Tudo isso acaba dando uma visibilidade internacional: recebemos prêmios da Unicef e temos acertos importantes com o Banco Mundial, com o BID. Adquirimos notoriedade nesse círculo estrangeiro melhor informado sobre o Brasil. Tenho noção de que isso deve ser uma referência ao trabalho coletivo que fizemos do qual eu, em certo momento, fui o intérprete"
Maior defeito e maior qualidade: "O maior defeito talvez seja a intolerância. Qaulidade, acho que é uma certa integridade –falo 'certa' porque é chato você se auto-elogiar. Perseguir a verdade é minha maior obstinação"

CLASSE
Por que decidiu ser político? "A minha família, lá no Ceará, tem uma longa participação na política de Sobral. Um tio chegou a ser deputado estadual muitos anos. Eu me criei lá e sempre gostei muito de política. Um pouco, acho que foi influência de meu pai. Ele sempre discutiu muito comigo as questões do mundo, do Brasil, a liberdade, a democracia. Na escola, tive uma intensa militância. Essa coisa de líder de classe começa desde o primário... Até que chega a hora de uma participação formal na poítica, quase como uma contingência natural"
Qual o maior defeito em um político e qual a maior qualidade? "O pior defeito é a desonestidade. Não só a de furtar, a de alcançar o dinheiro público, mas a desonestidade da manipulação da boa fé das pessoas. E a maior virtude é o empenho da palavra dada"
Qual a sua opinião sobre um político que, mal eleito para um cargo, já pensa no próximo? "Como todos os profissionais, o político tem aspiração de ascender profissionalmente. Mas não pode fazer disso um patamar, porque as posições em si mesmas são fundamentais de serem desempenhadas, com correção e profundidade. Você não pode estar num lugar pensando em outro"
Tem apetite pelo poder? "Não vejo o poder como um exercício diletante. Para mim é importante como uma ferramenta para mudanças"
Qual o momento mais marcante de sua vida política? "O primeiro dia na Prefeitura de Fortaleza, foi excitante. O mais difícil foi quando tive de renunciar à prefeitura para ser candidato a governador"

PROGRAMA
Qual sua distração quando não trabalha? "Filmes. No cinema, no videocassete, no canal de TV por assinatura, todos"
É cinéfilo? "Sim"
Lugar para morar sem ser o Brasil: "Estados Unidos"
Artes: "'Música, cinema e teatro"
Dorme quantas horas por dia? "Preciso de quatro horas, normalmente durmo cinco, seis"
Sonha quando dorme? "A lembrança no dia seguinte é muito rara"
Faz exercício? "Já faz um ano, estou praticamente sem fazer nenhum exercício. Antes, como governador, eu andava quase todo dia. Agora estou até engordando"
Como é sua alimentação? "Um horror. Não tomo nada no café da manhã. Levanto, saio para trabalhar, almoço às duas ou três da tarde, com muita fome. À noite, como um sanduíche ou uma pizza, que peço por telefone"
Fuma? "Deixei. Já fumei três maços por dia"

LAÇOS
Acredita em Deus? "Acredito"
O que mais gosta nas pessoas? "Expressões quaisquer de carinho. Cumprimento de mão sincero. Ser tocado, um sorriso, um gesto, uma palavra. Sou muito vulnerável a isso"
E o que mais detesta nas pessoas? "Falsidade, dissimulação, incapacidade de ser sincero e honesto. Isso é um horror"
O que é o amor? "Uma possibilidade de realização e de se alcançar a plenitude. Ninguém se realiza sozinho"

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