São Paulo, segunda-feira, 5 de dezembro de 1994
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Um projeto para o Rio

MARCELO BERABA

SÃO PAULO – Os debates realizados semana passada na Folha sobre o Rio mostraram que não há Exército que dê jeito na cidade se não houver simultaneamente à ação repressiva um projeto de desenvolvimento econômico e uma renovação das elites políticas.
Na gênese da crise da cidade há duas sortes de problemas. A primeira é de ordem econômica: houve um esvaziamento paulatino e ininterrupto da economia da cidade que gerou a perda de empregos, renda, arrecadação, qualidade de vida, dos serviços etc.
A segunda, de ordem política: não só não houve uma reação dos políticos a este esvaziamento econômico, como as diversas administrações que dirigiram o Estado ao longo dos anos 70 e 80 foram permitindo, por ação ou omissão, que o crime organizado (e desorganizado) fosse ocupando o espaço do Estado.
Os participantes do debate econômico -Aspásia Camargo, Claudio Frischtak e Sérgio Quintella– identificam na fusão dos antigos Estados do Rio e da Guanabara (1974), mais do que na transferência da capital para Brasília (1961), o início da crise da cidade.
A fusão foi uma intervenção autoritária do regime militar. Juntou de forma arbitrária e sem planejamento, numa operação de casuísmo político, uma cidade-Estado que mal ou bem se mantinha em pé e tratava de buscar um novo modelo de desenvolvimento, com um Estado falido e uma economia arcaica.
A história mostrou que em vez de a cidade puxar o Estado para cima, os dois afundaram juntos.
O Rio não teve, neste período e nos seguintes, uma classe dirigente capaz de defender seus interesses.
Como define Aspásia Camargo, foi uma classe "alienada", incapaz, por exemplo, de interferir em momentos chaves como na definição das políticas federais para os setores petroquímico e siderúrgico e para o pagamento dos royalties do petróleo.
O resultado aí está. Ou o Rio tem um projeto econômico consistente e consensual e força uma mudança radical no comportamento dos seus políticos ou vai ser obrigado a sobreviver com paliativos, como a ação do Exército.

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