São Paulo, segunda-feira, 5 de dezembro de 1994
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Política de ciência; Intervenção na Saúde; Direitos do cidadão; Avaliação de professores; Salários médicos; Democracia comparada; Fim da pólio; Funcionários paulistas; Agressão a aluna;

Política de ciência
"Tem razão o professor Sérgio Rezende (Folha, 30/11) sobre as idas e vindas de nossa política de ciência e tecnologia, flutuando ao sabor dos tecnocratas de plantão, e mais ainda quando reclama de que os recursos são insuficientes. Entretanto, tendo em vista sua posição no Conselho Deliberativo do CNPq e toda sua vivência de pesquisador, acho que ele deve ter informações suficientes para saber que o maior agravante para a situação de carência de recursos que o país investe em ciência e tecnologia é seu mau uso e não sua aplicação '...segundo a miopia daqueles que só conseguem enxergar o Brasil com a ótica de São Paulo'. Creio que o reclamo por mais recursos iria muito bem junto a propostas para diminuir o corporativismo que domina sua repartição e para uma avaliação criteriosa dos resultados obtidos nos grandes projetos financiados pelos órgãos de fomento à pesquisa e tecnologia."
Eurico Cabral de Oliveira Filho, diretor do Instituto de Biociências da USP (São Paulo, SP)

Intervenção na Saúde
"De certo tempo para cá, algo em torno de dois meses e meio, a Folha, via sua Sucursal em Brasília, tem publicado várias matérias a respeito do Ministério da Saúde que não correspondem à verdade dos fatos. Têm sido em vão nossas reclamações junto à referida sucursal. Quando veio à tona o episódio que resultou no afastamento do secretário-executivo desta pasta, um repórter chegou ao absurdo de noticiar que o presidente Itamar Franco tinha determinado uma intervenção militar na Secretaria de Vigilância Sanitária e que ela estava ocupada por oficiais da Marinha. Em vão tentei explicar ao jornalista que, de fato, estavam lá oficiais da Marinha, cedidos através de convênio firmado entre este ministério e o Emfa. O repórter, de sobrenome Godinho, chegou a afirmar que tinha obtido esta informação com a SAE e que a coisa estava certa. Ficou então valendo uma intervenção que não houve. No noticiário de 29/11 sobre a audiência que o relator da CPI do Inamps, deputado Jackson Pereira, teve com o presidente Itamar Franco, a Folha foi o único jornal a registrar a versão de que o parlamentar acusara o ministro tinha sido negligente. E, no de 30/11, ao manusear o 'release' enviado na véspera veja o que saiu publicado na página 8 do primeiro caderno."
Antônio Gomes de Oliveira, assessor de Comunicação Social do Ministério da Saúde (Brasília, DF)

Nota da Redação – É absurda a insinuação de que a Sucursal de Brasília estaria trabalhando para, de forma deliberada, denegrir a imagem do Ministério da Saúde. O que atenta contra a pasta e seu titular são as denúncias de irregularidades surgidas nos últimos meses, em especial no âmbito da Secretaria de Vigilância Sanitária (SVS) e no Inamps. Houve sim uma interferência militar na SVS. A leitura do "release" referido pelo missivista dá indicações de que, para o próprio ministro, o sistema de auditoria do Inamps é um organismo sem condições de realizar o trabalho para o qual foi criado.

Direitos do cidadão
"Infelizmente, o desrespeito aos direitos constitucionais neste país está se tornando rotina. No Rio de Janeiro, diversos cidadãos foram presos só por não portarem um documento de identidade. Há 40 dias, a polícia interrompeu um show de rap em São Paulo por não aceitar letras musicais de protesto dos jovens da periferia. No último sábado, no Anhangabaú, a prisão dos componentes da banda Racionais MC'S e MRN reforçaram essas arbitrariedades cometidas pelo poder público contra a liberdade de expressão. É preciso que a sociedade tome uma posição firme de defesa dos seus direitos garantidos pela Constituição."
Arselino Tatto, vereador pelo PT (São Paulo, SP)

Avaliação de professores
"O artigo do professor J. R. Drugowich de Felício, 'Avaliação de professores' (21/11), consegue resumir os anseios de todos aqueles que, por vocação, poderiam se dedicar exclusivamente ou ao ensino ou à pesquisa sem serem necessariamente penalizados pela exclusão de uma dessas atividades. As universidades devem encontrar mecanismos justos de avaliação de desempenho para aferir corretamente a contribuição de cada um para a sociedade."
Leandro V. Macedo, seguem-se mais três assinaturas (São Paulo, SP)

Salários médicos
"Em artigo publicado na coluna Opinião Econômica em 29/11, o dr. Carmino Antonio de Souza omite dados importantes: hoje um médico do Estado recebe por 20 horas semanais R$ 360 e um auxiliar de enfermagem R$ 230. Destes valores, apenas R$ 48 e R$ 40, respectivamente, são salários-base, o restante são gratificações não incorporadas para aposentadoria. Portanto, é falacioso dizer que uma nova gratificação irá estimular os trabalhadores da Saúde. O governo deveria reconhecer que parte do caos na Saúde se deve ao descaso com recursos humanos e a insignificante remuneração."
Angelo D'Agostinho Junior, diretor de Organização do Sindicato dos Trabalhadores Públicos da Saúde no Estado de São Paulo (São Paulo, SP)

Democracia comparada
"Neste debate promovido pela Folha a partir do dia 29/11 e intitulado 'Democratização e opinião pública', com a participação de sociólogos e cientistas políticos, senti a ausência de Francisco Weffort. Portanto, gostaria de sugerir que se acrescentasse ao debate uma análise ou resenha de um livro sobre 'democracia comparada', e que é apresentado por Weffort. Trata-se do livro de Samuel P. Huntington, 'A Terceira Onda: A Democratização no Final do Século 20', editado pela editora Ática em 94. Talvez o próprio Weffort pudesse 'resenhá-lo' novamente, a convite da Folha, e deste modo contribuir com o debate."
Vinício Carrilho Martinez, professor de sociologia (Marília, SP)

Fim da pólio
"Tomei conhecimento de uma das mais importantes notícias dos últimos séculos, senão a mais importante, para a população brasileira, a de que o Brasil erradicou a poliomielite. Minha estranheza e meu protesto são porque tal notícia não foi primeira página em jornal, nem mereceu destaque nas rádios. Só a vi na televisão."
Jeronimo Dix-sept Rosado Maia Sobrinho (Mossoró, RN)

Funcionários paulistas
"Esperamos e temos fé que o novo governador, sr. Mário Covas, não tenha o mesmo pensamento e a mesma crueldade de seus dois antecessores e corrija os míseros salários dos funcionários públicos estaduais o mais rápido possível."
Antonio Bento de Souza (Sud Mennucci, SP)

Agressão a aluna
"Concordo em que nada justifica agressão a uma criança, mas pergunto: o que teria levado o professor àquele gesto? Sabemos que a maioria dos pais, principalmente quando ambos trabalham fora, escolhem para seus filhos colégios caros, tendo implícito que estes devem dar inclusive educação de berço. Os colégios, por sua vez, para não perder alunos, acovardam-se em dizer aos pais que seus filhos são mal educados. Por favor, perguntem ao anjinho agredido o que ela fez para sofrer tão brutal agressão."
Jayro Eduardo Xavier (São Paulo, SP)

"Causa consternação ver a vida de um bom professor estigmatizada por um único ato –nem tão grave– cometido impulsivamente, mas que pode acabar com sua carreira. Vê-se nitidamente no caso não só a fome de notícias irresponsável da imprensa superdimensionalizando acontecimentos banais, mas também a histeria provocada por psicologismos baratos que preconizam aos adultos não baterem em crianças, mesmo quando o que essas mais merecem são mesmo algumas palmadinhas."
Armando C. da Serra Negra (São Paulo, SP)

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