São Paulo, quarta-feira, 7 de dezembro de 1994
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Advogados vão usar programa de FHC

DANIELA PINHEIRO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Trechos de um programa eleitoral do presidente eleito Fernando Henrique Cardoso vão ser usados pela defesa do ex-presidente Fernando Collor na tentativa de livrá-lo das acusações de crime de corrupção passiva.
O julgamento de Collor pelo STF (Supremo Tribunal Federal) está marcado para começar às 9h de hoje. Além dele, serão julgados o empresário Paulo César Farias, o piloto Jorge Bandeira (foragido), o ex-secretário particular Claudio Vieira e outros cinco envolvidos.
No programa eleitoral, veiculado no rádio em 30 de setembro, FHC diz que "quem elege um presidente, elege um chefe político. Um presidente não está impedido de exercer uma posição política, está impedido, isto sim, de usar a máquina do governo."
O discurso foi preparado à época da polêmica sobre a subida de FHC nas pesquisas, graças ao apoio do presidente Itamar Franco.
A defesa defende a tese de que um presidente pode manifestar preferência por um candidato, chegando até a pedir apoio político para ele, como Itamar teria feito em favor de FHC. O que não pode é pedir algo em troca do apoio.
Este argumento será usado para tentar derrubar a denúncia de que Collor teria cometido corrupção passiva, ao prometer ajuda ao então candidato a deputado federal Sebastião Curió.
Um dos advogados do ex-presidente, Fernando Neves, revelou que esta será uma das estratégias da defesa: "Só haveria crime se o presidente tivesse prometido algo em troca, o que não ocorreu."
A doação de dinheiro teria sido articulada por PC, seguindo orientação do presidente do PRN, Daniel Tourinho. Curió teria, então, recebido US$ 120 mil de PC.
Em troca, ele teria de telefonar para sede da Mercedes Benz, agradecendo o apoio financeiro. A conversa foi gravada por Curió.
Outro ponto a ser levantado pela defesa para inocentar Collor é revelar nomes sondados por ele para ocupar a futura equipe de governo.
Entre as indicações que "anistiariam" Collor estão a do senador eleito José Serra (PSDB-SP) para o Ministério da Economia e a de FHC para Relações Exteriores.
"Se Collor tivesse a intenção de cometer irregularidades, ele jamais convidaria duas pessoas de reputação e caráter indiscutíveis para participarem diretamente de seu governo", afirmou Neves.
Segundo a defesa, só depois da recusa de Serra é que Zélia Cardoso de Mello foi convidada. O mesmo teria acontecido com FHC.

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