São Paulo, quarta-feira, 7 de dezembro de 1994
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Morre na Grécia o 'homem mau' da esquerda, Gian Maria Volonté

INÁCIO ARAÚJO
DA REDAÇÃO

O ator italiano Gian Maria Volonté morreu ontem Florina, noroeste da Grécia, aos 61 anos. O ator estava trabalhando do novo filme do cineasta grego Theo Angelopoulos.
Seu corpo foi encontrado inconsciente pela manhã, no hotel onde estava hospedado. As agências de notícias divulgaram duas informações contraditórias, ambas tendo como fonte a polícia de Florina. Para uma delas, a provável causa da morte teria sido um ataque cardíaco. Para outra, há suspeitas ainda não esclarecidas sobre o assunto.
A saúde de Volonté foi, de todo modo, um dos motivos por que era difícil vê-lo nas telas nos últimos anos: sofria de uma doença degenerativa que provocou seu envelhecimento precoce.
Seu nome ficou associado, sobretudo, aos filmes esquerdistas que estrelou desde que "Investigação sobre um Cidadão Acima de Qualquer Suspeita" (Elio Petri, 1970) fixou sua imagem de "homem mau". Imagem que fez sua fama, mas não o seguiu por todos os filmes. Ali, ele é o comissário de polícia que mata sua amante e, apesar das evidências, nunca é incluído entre os suspeitos. O êxito do filme está inteiramente ligado a Volonté, cujo olhar frio, direto, criava toda uma atmosfera de ambiguidades.
A partir daí vieram "Vento Leste", de Jean-Luc Godard (69), "A Classe Operária Vai ao Paraíso", de Petri (71), "Sacco e Vanzetti", de Giuliano Montaldo (71), "Lucky Luciano", de Francesco Rosi (72), "O Delito Matteoti", de Florestano Vancini (74), "Eu Estou com Medo", de Damiano Damiani (77), e outros.
Nascido em 1933, numa família burguesa, Volonté lançou-se no teatro ainda jovem, em reação contra seu meio de origem. Passou ao cinema em 1960 e logo fez dois filmes importantes: "A Cavallo della Tigre", de Luigi Comencini, e "Hércules na Conquista da Atlântida", de Vittorio Cottafavi (ambos de 1961).
Esquerdista, Volonté chegou a rodar em 1971 um documentário em 16 mm sobre ocupação de fábricas em Roma. Mas podia também ir para o Oeste com Sergio Leone, como o vilão de "Por um Punhado de Dólares" (64). Podia voltar-se para a Idade Média e fazer o hilariante príncipe bizantino (e vigarista) de "O Incrível Exército de Brancaleone" (Mario Monicelli, 66). Cômico ou dramático, Volonté é um nome central da grande época do cinema italiano.
(Inácio Araujo)

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