São Paulo, quarta-feira, 7 de dezembro de 1994
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Argentina decide processar brasileiro

SÔNIA MOSSRI
DE BUENOS AIRES

A Justiça Federal argentina decidiu ontem processar Wilson Roberto dos Santos por falso testemunho e falsidade ideológica. Se for condenado, poderá pegar de um a oito anos de prisão.
Santos está detido desde 19 de novembro por causa de depoimentos contraditórios sobre o atentado à Amia (Associação Mutual Israelita Argentina).
O juiz Claudio Bonadio, do 11.º Juizado Federal, disse no início da noite de ontem que Santos continuará detido na penitenciária de Vila Devoto até que seja julgado.
Pela legislação argentina, Bonadio deveria ter definido se processaria ou não Santos na última segunda-feira. A decisão foi protelada por causa de uma maratona de interrogatórios a que Santos foi submetido nos últimos dois dias.
Apesar de estar oficialmente com o caso Santos, Bonadio não comanda a causa judicial. A palavra final cabe ao juiz federal Juan José Galeano, responsável pelo inquérito sobre a explosão da Amia, em 18 de julho. O atentado provocou a morte de 96 pessoas.
Galeano acha que 50% das declarações iniciais do brasileiro se encaixam com as investigações do governo argentino. Santos disse que tinha relações com um grupo de iranianos que planejavam um atentado em Buenos Aires.
Na segunda-feira, Bonadio informou que Santos seria sentenciado na terça, mesma informação fornecida pela assessoria de imprensa da Corte Suprema. Ontem, afirmou que o paulista será julgado por um tribunal do júri.
A Justiça federal argentina entra em recesso em janeiro. Com isso, pode ser que Santos só seja julgado em fevereiro.
O juiz diz que o brasileiro não está incomunicável, mas o Serviço Penitenciário não tem autorizado qualquer tipo de visita que não seja de autoridades judiciais.
Santos será processado por falso testemunho. Ele negou em um depoimento em juízo declarações de que sabia com antecedência de um atentado a entidades judaicas na Argentina, explicou Bonadio.
O processo por falsidade ideológica resulta de depoimentos que Santos deu em consulados argentinos em vários países, inclusive no Brasil, como revelou à Folha o cônsul-geral-adjunto da Argentina em São Paulo Daniel Azzi Balbi.
O que chamou a atenção de Galeano foram as afirmações do paulista feitas em 19 de julho, um dia após o atentado à Amia, em Milão. Nesse depoimento no consulado, que tem valor semelhante a um depoimento em juízo, Santos apontou supostos terroristas.

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