São Paulo, quarta-feira, 7 de dezembro de 1994
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Operação Rio e os juízes; Liberação da maconha; Plágio total; Reação imediata; Entrevista de Simonal; Contracenação

Operação Rio e os juízes
"Com a intervenção militar no Rio, juízes escolhidos em detrimento do princípio do juiz natural foram colocados à disposição das Forças Armadas, trocando o tribunal por um quartel, em designações que se noticiaram como destinadas não a examinar e julgar, mas para pura e simplesmente expedir mandados de busca ou de prisão, autorizando ainda escutas telefônicas em desacordo com decisão do STF. O combate à criminalidade não pode justificar a quebra de garantias fundamentais, o desrespeito à Constituição, a violação a direitos individuais. A preservação do Estado de Direito exige juízes e tribunais que não se curvem ao desejo punitivo de um alardeado clamor público. O cidadão deve encontrar no Poder Judiciário a independência asseguradora do julgamento justo e imparcial."
Antonio Celso Aguilar Cortez, presidente do Conselho Executivo da Associação Juízes Para a Democracia (São Paulo, SP)

Liberação da maconha
"Fui surpreendido com matéria publicada nessa Folha, edição de ontem, pág. 3-5, com o título 'Polêmica –secretário defende a liberação da maconha. Luiz Matias Flach compara droga a litro de uísque'. Desautorizo, por não corresponder à realidade, parte da matéria e, no substancial, o seu título. Concedi, com a confiança habitual na imprensa, entrevista telefônica, de Porto Alegre, a repórter da Folha no sábado último. Versou especialmente sobre o relacionamento brasileiro em matéria de drogas com as demais nações, e o respeito recíproco exigível (sobre o que nada foi publicado). Após perguntou-me o repórter se havia algum projeto governamental de liberação de alguma droga proibida no Brasil, tendo respondido que não, aduzindo argumentos sobre a inoportunidade. Finalizando, invocou o repórter entrevista anterior concedida à Folha (edição de 7/08, pág. 4-7) completando que, anexa à matéria, existiam no arquivo do jornal trechos de manifestação minha na Câmara dos Deputados, em outubro de 1993, nove meses antes de assumir a SNE, lendo-os. Respondi nada haver a reparar, salientando as minhas responsabilidades atuais de secretário nacional de Entorpecentes, a determinar cautela por externar o pensamento do governo. No episódio, saliento: a) na entrevista não defendi a liberação da maconha; b) nem sequer no depoimento de então, na Câmara dos Deputados, defendi a liberação da maconha; c) em inúmeras entrevistas concedidas à imprensa como secretário nacional de Entorpecentes sempre respondi que o governo brasileiro não pretende a descriminalização de drogas hoje ilegais. Assim foi referido, com correção, na aludida matéria anterior da Folha, onde constou como declaração minha: 'A orientação do governo brasileiro é a de não tomar iniciativas da descriminalização de drogas hoje ilegais'."
Luiz Matias Flach, secretário nacional de Entorpecentes (Brasília, DF)

Plágio total
"O governo FHC poderá ser processado pelo ex-presidente Fernando Collor por plágio de elenco e enredo."
Fred de Freitas (Curitiba, PR)

Reação imediata
"Dia 25 último, o sr. Carlos Figueiredo Forbes, ainda traumatizado, remeteu uma carta emocionada relatando o episódio no qual foi obrigado a reconhecer o corpo destroçado por 14 tiros de seu amigo sr. Marcelo Kneese. No chocante relato, o sr. Forbes teve a ousadia de chamar os frios assassinos de 'ratos e vermes'. A reação foi imediata. Dia 27/11, um dos membros da Comissão de Direitos Humanos de São Paulo e o coordenador do Centro Pastoral de Orientação e Educação à Juventude ficaram indignados com os adjetivos. Do jeito que vai, logo logo será criada a 'Pastoral do Estuprador', ou a 'Comissão dos Direitos dos Assassinos para até 14 tiros'."
Aroldo Geraldo Silva Junior (Cotia, SP)

Entrevista de Simonal
"Pela admiração que nutro por este prestigioso jornal, foi com satisfação que recebi a visita de um repórter do mesmo para conceder uma entrevista que deveria versar sobre a minha vida profissional e sobre meus projetos artísticos para o ano que entra. Ao deparar com a publicação da entrevista, porém, chocou-me a forma como a mesma foi editada pois, em vez de reproduzir meu diálogo com o repórter, estendeu-se indevidamente em considerações sobre fatos alheios à minha vida artística, fatos esses que carecem de fundamentos como há muitos anos venho sendo forçado a desmentir. Infelizmente, quando me achava no auge de minha ascensão profissional, fui vítima de calúnias que atribuo a dois fatores que infelizmente ainda não se conseguiu eliminar da alma humana: a inveja e o racismo. Quanto à inveja, nada posso fazer. É um componente das almas menores. No tocante ao racismo, porém, não posso transigir, até porque tenho sido instado por entidades negras e judaicas a não permitir que ataques –pessoais apenas na aparência– se estendam às comunidades a que pertençam os agredidos e caluniados. As distorções da entrevista que dei, por isso mesmo, encaro como parte da orquestração que há anos se formou contra mim e que involuntariamente, creio eu, a referida entrevista acabou por encampar. Por temperamento, silenciei por muitos anos diante da calúnia, certo de que meus detratores não mereciam sequer o trabalho da resposta. Percebo, agora, que deveria ter agido diferentemente, porque minha tolerância foi encorajando os maus, a tal ponto que os bons se contaminaram e passaram a repetir inverdades das quais apenas possuiam longínquas e infundadas referências. A reportagem, com a lamentável menção às calúnias que me atingiram há mais de 20 anos, teve o condão de provocar o cancelamento de três espetáculos já comigo contratados. Ou seja: antes procuravam atingir minha alma e o meu coração; agora, trata-se de tirar o pão de minha boca. Não creio que tenha sido esse o propósito, mas o resultado foi esse, infelizmente. Por ora, peço apenas que registrem e publiquem minha resposta. Reservo-me, todavia, o direito de responsabilizar civil e criminalmente os que, de futuro, venham a violar a norma constitucional que protege negros, judeus e demais minorias. Para tanto, conto, como já disse, com o apoio de entidades que, contrariamente à minha atitude anterior, não transigem no que diz respeito a comportamentos racistas e preconceituosos"
Wilson Simonal, cantor (São Paulo, SP)

Contracenação
"No dia 22/11, no bar Spot da rua Ministro Rocha de Azevedo 72, depois de jantar, fui até a mesa provocar a fotógrafa Claudia Guimarães e a colunista Erika Palomino que, se sentindo agredida e não tendo talento suficiente para responder à altura, apelou para a segurança e gerência do bar, dois caras que não hesitaram em me retirar da mesa aos socos e empurrões e contaram com a adesão imediata de todos os presentes e empregados do bar, gerando um tumulto a partir deste incidente. O mais grave dessa situação é que, num lugar frequentado por pessoas ilustradas, a violência física e besta seja a única forma possível de contracenação."
Aleyona Cavalli, atriz (São Paulo, SP)

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