São Paulo, quinta-feira, 8 de dezembro de 1994
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Muita coisa mudou

NELSON DE SÁ
DA REPORTAGEM LOCAL

Pode ser "o maior processo penal da história do Supremo", como diz a Globo. Pode ser também "o mais longo julgamento da história do Supremo", como diz o SBT.
Pode ser tudo isso e bem mais, para a história do Brasil, que o brasileiro parece não estar dando maior atenção.
A imagem mostrou bem, nas diversas redes, e Alexandre Garcia sublinhou que "há muitos lugares vagos na assistência do plenário do Supremo e, do lado de fora, menos de uma dezena de pessoas".
Na frase algo frustrada da Bandeirantes, "o julgamento está sendo muito menos concorrido do que se imaginava".
Nem os caras-pintadas apareceram. Segundo a CBN, "os estudantes tiveram presença tímida diante do Supremo e a única manifestação durou menos de um minuto".
É o melhor ambiente que Collor, PC e amigos poderiam desejar. Um ambiente que, na verdade, reflete a boa vontade geral para com os réus.
Uma boa vontade revelada já no aniversário da prisão de PC, quando ele foi chamado por Boris Casoy e outros de "bode expiatório". Ontem na Manchete, Augusto, irmão de PC, aprofundou o argumento:
– Chegou o grande momento. De um ano para cá, muita coisa mudou neste país. Teve o escândalo do Orçamento. Teve o PT, a vida toda falando das empreiteiras, hoje o PT cospe no prato que comeu. Teve o escândalo do jogo do bicho. Teve o problema do Ricupero. Teve todos estes escândalos, e o Paulo César continua preso.
É tal o ambiente, um ano depois. Como disse Luiz Gutemberg, da Bandeirantes, "Collor está sendo protegido por uma onda brutal. Curiosamente, a mesma mobilização que o condendou agora o favorece".
A justificativa para a onda estava na manchete do SBT: "No julgamento de Collor, a defesa diz que não há provas." Não há provas, não há provas, murmuram quase todos na televisão –sem afirmar.
"Provas são poucas, quase admitiu o procurador", chegou a declarar Mônica Waldvogel. Pode ser, mas no julgamento anterior elas também eram poucas e ninguém reclamou.
A boa vontade geral, hoje, é anterior à dúvida das provas. É identificada no próprio público, como na enquete por telefone da CBN, que apontou uma maioria de quase dois terços, favoráveis à absolvição.
Ou o brasileiro esquece fácil, ou não quer justiça seletiva.

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