São Paulo, terça-feira, 13 de dezembro de 1994
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'Cerrado faz segunda Revolução Verde'

DA AGÊNCIA FOLHA

Prêmio Nobel da Paz em 1970, o agrônomo norte-americano Norman Borlaug, 80, disse à Agência Folha que o cerrado brasileiro será palco da segunda "Revolução Verde" da humanidade.
Borlaug foi o idealizador da chamada "Revolução Verde". Ele desenvolveu, na década de 60, uma tecnologia com sementes melhoradas de trigo, que ajudou a combater a fome na Índia e no Paquistão.
Atualmente, o professor Borlaug, doutor em fitopatologia, trabalha na divulgação dos milhos QPM, que apresentam o dobro da quantidade de proteína existente no milho comum.
Borlaug participou do Simpósio Internacional de Melhoramento de Milho de Alta Qualidade (QPM), em Sete Lagoas (MG), onde concedeu entrevista à Agência Folha.
Agência Folha – Por que somente agora, 26 anos depois da descoberta do Opaco 2, aparece um milho QPM, em condições de competir no mercado?
Norman Borlaug – O Opaco 2 inicialmente apresentava densidade 15% inferior aos demais milhos por ser muito esfarinhado. Isto acabou afastando o interesse dos produtores. Em vez de aperfeiçoar a espécie, os cientistas abandonaram as pesquisas. Somente China, África e Brasil (através da Embrapa), continuaram as pesquisas.
Agência Folha – Havia também a polêmica sobre a quantidade necessária de lisina no organismo.
Borlaug – Muitos pesquisadores defendiam que o ser humano não precisa da quantidade de lisina encontrada no Opaco 2. Se você come carne, ovos e outras proteínas, não precisa de tanta lisina. Mas acontece que a maior parte da população dos países pobres é faminta, daí a necessidade de um milho com alta taxa de lisina para acabar com a fome.
Agência Folha - Como o senhor vê os avanços na agricultura no combate à fome?
Borlaug – Acho que o cerrado brasileiro está sendo palco da segunda "Revolução Verde" da humanidade. Os pesquisadores brasileiros desenvolveram técnicas que tornaram uma área improdutível há 20 anos na maior reserva de alimento do mundo. Quero levar essas técnicas para a África.
Agência Folha – Mas há pesquisadores da própria Embrapa que defendem o cultivo de plantas nativas do cerrado. Há também o problema dos reflorestamentos, que tomaram conta de quase 2 milhões de hectares do cerrado em Minas Gerais.
Borlaug – A exploração do cerrado deve ser feita de modo racional. Devem ser deixadas reservas de matas nativas.

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