São Paulo, terça-feira, 13 de dezembro de 1994
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Embrapa lança supermilho contra a fome

AMAURY RIBEIRO JR.
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SETE LAGOAS (MG)

A Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) de Sete Lagoas (MG) começou a distribuir aos produtores de todo o país nove toneladas do milho BR 473.
A nova variedade foi lançada no último dia 1º pelo Prêmio Nobel da Paz em 1970, Norman Borlaug, durante Simpósio Internacional de Melhoramento e Utilização do Milho de Alta Qualidade Protéica (QPM) em Sete Lagoas.
"O BR 473 é o primeiro milho de alta qualidade protéica (QPM) com capacidade de competir com os outros milhos", disse Borlaug.
Segundo o pesquisador do Centro Nacional de Pesquisa de Milho e Sorgo (órgão da Embrapa), Paulo Evaristo de Oliveira, o BR 473 tem até 50% a mais de qualidade protéica em relação às outras variedades.
A exemplo dos demais milhos QPM, a nova variedade tem como principal caracaterística a alta taxa de concentração dos aminoácidos lisina e tripitofano.
Estes dois aminoácidos fazem com que a proteína do milho passe a ser mais digerida pelo homem.
Na década de 70, o Centro Internacional de Melhoramento do Milho e Trigo do México desenvolveu o Opaco 2, primeiro milho com alta qualidade protéica.
Mas o Opaco 2 acabou não sendo absorvido pelo mercado por ser esfarinhado e apresentar baixa densidade.
"Foram 11 anos de pesquisa para que conseguíssemos obter um milho com alta qualidade protéica e capacidade de competir em condições iguais com os outros milhos", diz Oliveira.
O BR 473 tem coloração amarela. No ano passado, a Embrapa lançou o BR 451, milho com a mesma concentração de proteína, mas de cor branca e que está sendo utilizado na fabricação de pães, bolos e biscoitos.
Oliveira diz que os animais alimentados com o BR 473 apresentaram ganho de peso de 40% a mais em relação aos tratados com outros milhos.
O lançamento do BR 473 tem o objetivo de ampliar a área de plantio e o consumo direto e indireto de milhos de alta qualidade protéica no Brasil. "É nossa contribuição para diminuir o problema da fome no país", diz Oliveira.
Ele explica que o milho tem em média 9% de proteína. Os seres monogástricos (que têm apenas um estômago), como o homem, aves e suínos, têm dificuldade de quebrar a proteína dos milhos comuns em aminoácidos, para que possa ser aproveitada durante o processo de digestão.
Então, a quantidade de proteína aproveitada é quase nula. Aproveita-se basicamente os carboidratos e outros nutrientes.
O milho BR 473, por possuir a lisina, tem sua proteína absorvida facilmente.
A nova variedade está sendo chamada de "milho da fome" devido à alta concentração de proteína.
A proteína pode ser também ingerida indiretamente. O homem que se alimenta de uma ave tratada com o milho BR 473 recebe as mesmas quantidades protéicas.
Pequenos e médios
Inicialmente o BR 473 atenderá pequenos e médios produtores. Segundo o pesquisador da Embrapa, Nelson Xavier, o agricultor poderá aproveitar as próprias sementes cultivadas em sua lavoura do BR 473 para o plantio do ano seguinte.
O BR 473 é um milho de variedade. O plantio dos milhos híbridos é feito com sementes beneficiadas.
Por ser um milho de variedade, tem menor produtividade do que os milhos híbridos. "Isto o impossibilita de competir com o híbridos em grandes propriedades", diz Nelson Xavier.
A produtividade do BR 473 varia entre 4.000 e 5.000 quilos/hectare, enquanto a dos híbridos é de 8.000 quilos/ha.
O cultivo e o plantio do milho BR 473 dispensam técnicas especiais. Por ser precoce, o BR 473 pode ser colhido 130 dias após o plantio.

ONDE SABER MAIS: Embrapa, rodovia MG-424, Km 65, caixa postal 151, CEP 35.700, Sete Lagoas (MG). Tel (031) 921-5644.

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