São Paulo, terça-feira, 13 de dezembro de 1994
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Evaristo aponta 'vitória da democracia'

XICO SÁ
DO ENVIADO ESPECIAL A BRASÍLIA

O advogado criminalista Evaristo de Moraes Filho, que defendeu o ex-presidente Collor, disse ontem, ao fim do julgamento, que só restava uma coisa: "Tomar um bom vinho para comemorar".
Segundo Evaristo, os seus últimos dias foram movidos a Lexotan (calmante) e finalmente chegara o momento de festejar "a vitória da democracia".
Para o advogado, sua tese de defesa foi exposta desde o processo de impeachment no Senado. "Sustentamos que as despesas de Collor foram feitas com sobras de campanha".
Para reforçar a sua estratégia, Evaristo bateu firme em um ponto: seria impossível caracterizar corrupção passiva sem listar os corruptores.
Antes de passar na Casa da Dinda, onde daria "um abraço" no ex-presidente, o advogado, que é um dos fundadores do PSB (Partido Socialista Brasileiro), concedeu a seguinte entrevista:
Folha - Qual foi o significado dessa vitória?
Evaristo de Moraes Filho– Foi a grande vitória da democracia. O Brasil mostrou que é capaz de depor um presidente eleito, levá-lo ao banco dos réus por um processo político no Congresso, e depois é capaz também de absolvê-lo juridicamente no STF.
Folha - Não fica estranho para a sociedade que um presidente tido como corrupto pelo Congresso seja inocentado no STF?
Evaristo - São duas coisas totalmente diferentes. O processo do Congresso está resolvido. Julgou, entre outras coisas, o decoro para o cargo. Foi um julgamento político e talvez se eu fosse deputado tivesse votado contra ele.
Esse processo não tem mais jeito, o ex-presidente teve os seus direitos suspensos por oito anos, está inabilitado. Agora no STF, o julgamento deixa de ser político e passa a valer as provas nos autos. Isso é que mostra a grande vitória da democracia.
Folha - A denúncia do procurador-geral Aristides Junqueira era frágil?
Evaristo - O problema é que ficou comprovado que não existiam provas nos autos contra o ex-presidente. Existia uma acusação de corrupção passiva e não conseguiram apontar os corruptores, aqueles que supostamente teriam levado vantagem ou benefício no caso.
Folha - O sr. foi cobrado por ser de esquerda, fundador do PSB, e defender Collor?
Evaristo – O partido se comportou da melhor maneira possível. Até achava, no início, que poderia ter problemas, mas prevalecu o bom senso. O dever do advogado é defender qualquer pessoa, seja quem for.
Folha - O sr. poderia dizer quanto ganhou pela causa?
Evaristo – Está tudo declarado na Receita. Não foi muito dinheiro, como as pessoas podem imaginar. Foi algo muito modesto.

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