São Paulo, terça-feira, 13 de dezembro de 1994
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O mundo vem aí

CLÓVIS ROSSI

MIAMI – Na operação de lançamento do atlas em fascículos, a Folha publicou uma eloquente pesquisa: 80% dos paulistanos jamais haviam saído do país.
Se é assim na capital do Estado mais rico do Brasil, é razoável supor que os números serão ainda mais minguados nos demais pontos do país.
Pois agora, o mundo está se preparando para cair em cima dessa maioria esmagadora que viu pedaços dele apenas na telinha da TV e nas páginas de revistas e jornais.
A decisão dos mandatários americanos de criar uma zona de livre comércio hemisférica, que irá do Alaska à Terra do Fogo, vai afetar a vida de cada um, para o bem ou para o mal.
Pode-se supor, com razão, que será um longo e pedregoso caminho até que, no ano-meta de 2005, estejam de pé as normas para que se possa começar a construir a tal de FTAA (Free Trade Area of the Americas). Mas, como diz o chanceler argentino Guido di Tella, após reconhecer as inúmeras dificuldades: "A meta está aí para mudar a realidade".
Vai ser preciso, agora, um gigantesco esforço das autoridades brasileiras, de seus acadêmicos, empresários, sindicalistas e da mídia para traduzir o que está acontecendo e o que pode acontecer em uma linguagem acessível se não a todos pelo menos a uma parcela substancial dos brasileiros.
Não pode ocorrer, de novo, o que aconteceu com o Mercosul, que nasce dia 1º quase clandestinamente, exceto para os Estados do Sul, nos quais o tema foi mais constantemente tratado.
O Brasil, como todo país continental, tem uma tradição de voltar-se para si mesmo. É tão grande e diversificado que a turma de São Paulo mal sabe direito como acontecem as coisas no Maranhão, por exemplo. Imagine-se então o desconhecimento sobre Canadá e mesmo os badalados Estados Unidos.
Na prática, o que está acontecendo com a febril atividade em torno de blocos comerciais é a entronização da tal de aldeia global no cotidiano das pessoas. Se os brasileiros não conseguiram ir ao mundo, o mundo prepara-se para vir a eles.

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