São Paulo, terça-feira, 13 de dezembro de 1994
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Natal sem fome

Um dos maiores exemplos de organização social espontânea da história do país, a Ação da Cidadania Contra a Fome, a Miséria e Pela Vida lança este ano sua segunda campanha do Natal Sem Fome. E, pela segunda vez, conta com o apoio e participação desta Folha, que hoje distribui sacolas para a doação de alimentos e destina a arrecadação das vendas em banca na Grande São Paulo para a compra de aproximadamente 15 toneladas de feijão.
Esta iniciativa representa, é mais do que evidente, apenas uma pequena gota d'água em meio à gigantesca questão da miséria e da fome no país. Ainda assim, o movimento merece ser apoiado.
É certo que, para pessoas que passam fome, qualquer quantidade de alimento é bem-vinda, mas esse efeito é apenas efêmero e paliativo.
Muito mais importante é um impacto de outra ordem. Ainda que de uma forma bastante limitada, o movimento serve como exemplo para mostrar que a sociedade ou grupos específicos são capazes de organizar-se e agir autonomamente, que não precisam nem devem resignar-se a observadores passivos das ações estatais.
De fato, é quase que da tradição do país culpar o governo por todos os males e esperar que venham desse ente, muitas vezes distante e abstrato, todas as soluções –numa passividade cívica que decerto tem muito a ver com o autoritarismo que marca a história do Brasil.
Aí, portanto, a maior relevância da Ação da Cidadania, com suas centenas de comitês espalhados pelo país (são quase 700 permanentes só no Estado de São Paulo), e da campanha do Natal Sem Fome. Representam passos iniciais num importante aprendizado de participação e engajamento cívico.

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