São Paulo, terça-feira, 13 de dezembro de 1994
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Um homem cordial

LUIZ CAVERSAN

RIO DE JANEIRO – Como paulistano que teve sua atividade profissional deslocada para o Rio, passei os últimos quatro anos de minha vida procurando aprender e aceitar –e muitas vezes me indignar com– os códigos do Rio de Janeiro.
São peculiares, muitas vezes totalmente diferente os modos e procedimentos do carioca comparados aos dos paulistas. Longe de querer aqui atiçar uma rivalidade que já não faz sentido, a intenção é apontar para uma das características mais notáveis de certa estirpe de cariocas: a cordialidade.
Quem viesse morar no Rio e tivesse suas atenções voltadas para a mídia, o show-bizz e a chamada inteligência local descobriria rapidinho que a cidade tinha seu embaixador-mór no Itamaraty da cordialidade. Era, sem dúvida, o maestro Tom Jobim.
Nunca vou esquecer, entre outras virtudes suas, a reverência com que atendia as pessoas ou respondia a cumprimentos. Educado, paciente, gentil, principalmente com as mulheres, para as quais sempre dedicava uma mesura com o chapéu na mão.
A disponibilidade de Tom era tamanha que virou motivo de piada na Sucursal da Folha no Rio. Sempre que algum fato de conotação nacional exigia que se fizesse a devida repercussão junto à chamada sociedade civil, alguém sempre brincava: "Liga para o Tom Jobim".
Se ocorresse, o telefonema nunca seria em vão: Tom sempre tinha alguma observação espirituosa, construtiva, positiva.
Em uma dessas muitas entrevistas apresentadas pela TV a propósito de sua morte, Tom Jobim disse que admirava no carioca duas grandes qualidades: a paciência e a indisposição para a violência. Ainda que parcialmente desmentido pelos fatos, Tom Jobim, ele sim, terá para sempre agregada a sua biografia uma qualificação rara e bonita, humana e profundamente carioca. A de ter sido um homem cordial.

Do relatório da entidade internacional de defesa de direitos humanos Human Rights Watch, divulgado semana passada, faltou destacar que a entidade está profundamente preocupada com o aumento do extermínio das crianças de rua e da prostituição infantil no Brasil. Motivo de vergonha para todos.

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