São Paulo, quarta-feira, 14 de dezembro de 1994
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Fliperama vira ponto de prostituição

FÁBIO GUIBU
DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

Os fliperamas estão se tornando pontos de encontro entre garotos de programa e homens de meia idade em Recife.
A Agência Folha acompanhou a movimentação em dois fliperamas do centro da cidade.
Nos dois locais, homens de meia idade se misturavam a garotos e rapazes. O barulho das máquinas encobre as conversas.
O movimento cresce a partir das 18h. Nos salões, nenhuma mulher é encontrada.
Homens e garotos se revezam nas máquinas. Sem fichas, meninos simulam jogar até que alguém se aproxima e inicia a conversa.
"Eles ficam olhando, depois chegam junto e dão ficha pra gente", conta A.S.S., 15, menino de programa desde os 14.
"Logo perguntam o nome, a idade e depois querem saber se a gente está a fim de curtir com eles", disse o garoto.
Acertados preço e condições, os encontros acontecem em pequenos hotéis e pensões próximos dos fliperamas.
Segundo os meninos ouvidos pela Agência Folha, eles nunca saem acompanhados dos parceiros. "A gente vai primeiro e espera ele chegar", diz A.S.S., que cobra R$ 10,00 por programa.
A atividade ainda é cercada de sigilo e os acertos acontecem sem intermediários.
A idade dos meninos de programa gira em torno de 11 a 15 anos. A maioria começou a se prostituir para aumentar a renda familiar.
Os preços dos programas variam de R$ 5,00 a R$ 15,00.
Segundo estimativa do Grupo Pela Vidda de Recife, que pesquisa o assunto há dez meses, cerca de 220 menores dependem da prostituição para viver.
Com as crianças mais novas, a prática sexual com o adulto se restringiria à masturbação e ao sexo oral, segundo o Pela Vidda.
Já aos adolescentes caberia sempre o papel de ativo nas relações homossexuais, segundo apurou a Agência Folha.
A.S.S., que já foi vendedor de picolés, diz que hoje se tornou um profissional do sexo. "Fiquei viciado nisso", afirma.
Ele conta que faz em média três programas por noite e que o dinheiro que ganha é todo utilizado para seu próprio sustento.
Como os demais garotos de programa, A.S.S. diz que prefere manter relações sexuais com mulheres, mas que precisa sair com homens por causa do dinheiro.
Ele conta que muitos clientes fazem promessas.
"Eles falam que virão buscar a gente para morar com eles, que vão cuidar da gente, dar roupa, comida e calçados", diz.
"A gente espera, espera e eles nunca vêm. Pode ser só conversa mole, mas se um dia ele vier, eu vou junto", disse o garoto.

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