São Paulo, quarta-feira, 14 de dezembro de 1994
Texto Anterior | Índice

Mãos Limpas ouve Berlusconi por 7 horas

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

O primeiro-ministro da Itália, Silvio Berlusconi, foi interrogado por mais de sete horas por magistrados da Operação Mãos Limpas, que investiga a corrupção no país.
Após o depoimento, ele divulgou nota afirmando que não enfrenta "provas nem testemunhos, apenas ilações e deduções arbitrárias" e que não pensa em "jogar a toalha". O premiê nega qualquer envolvimento pessoal com propinas supostamente pagas por funcionários do grupo Fininvest SpA, de sua propriedade, a agentes da Receita Federal italiana.
Por razões de segurança, Berlusconi chegou ao Palácio da Justiça de Milão três horas antes do previsto. Havia cerca de cem manifestantes de oposição do lado de fora quando ele chegou em seu Mercedes-Benz cinzento, acompanhado por dois advogados e pelo chefe de polícia de Milão, Gherardo Colombo, pouco antes do meio-dia (9h em Brasília).
O interrogatório foi conduzido pelo juiz que chefia a Operação Mãos Limpas, Francesco Saverio Borrelli, e dois assistentes.
Berlusconi deixou o prédio às 19h45, por uma porta lateral, sem fazer qualquer declaração. "Poupem o seu fôlego, eu não vou dizer nada", disse aos jornalistas o juiz-assistente Piercamillo Davigo. "Renuncie!", "Vergonha!", gritavam os manifestantes.
Segundo o jornal "Corriere della Sera", o depoimento do primeiro-ministro foi gravado em vídeo e a fita poderá ser usada nos tribunais caso ele seja processado.
As suspeitas sobre Berlusconi surgiram com a confissão de agentes da Receita de que receberam propinas de 230 milhões de liras (US$ 143 mil) de executivos da editora Mondadori e da seguradora Vita, ambas do grupo Fininvest.
"Nunca corrompi ninguém, em nenhuma circunstância", afirmou o primeiro-ministro em carta publicada na primeira página do jornal "Il Sole-24 Ore". "O mal-entendido será resolvido logo."
No campo político, a situação não inspirava tanta confiança. Umberto Bossi, líder da federalista Liga Norte (que integra a coalizão governista junto com a Força Itália de Berlusconi), disse que o governo está "em suas últimas semanas" e terá "um fim inglório".
Em Nápoles começou o julgamento do ex-ministro da Saúde Francesco de Lorenzo, que enfrenta 97 acusações de corrupção. Ele se recusou a deixar a prisão de Poggioreale, onde está preso há sete meses, e foi declarado revel.

Texto Anterior: Lançada autobiografia de Nelson Mandela
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.

Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.