São Paulo, quarta-feira, 14 de dezembro de 1994
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Os nós do Real

Ao final de quase um semestre do Plano Real, o combate à inflação mostra sinais positivos –a primeira prévia do IGP-M de dezembro foi de 0,65% e há estimativas de que os preços ao consumidor subirão 2% este mês (27% anuais). Ainda assim, é um resultado insuficiente que mostra como é longo o caminho da estabilização. Enquanto isso, os remédios contra a inflação provocam efeitos indesejados.
A queda na cotação do dólar e as altas taxas de juros põem as empresas brasileiras em desvantagem na concorrência internacional, prejudicando os exportadores. Ademais, enquanto firmas estrangeiras se financiam pagando juros da ordem de 10% ao ano, no Brasil as taxas estão ao redor de 90%.
Em Miami, o presidente eleito, Fernando Henrique Cardoso, declarou que será necessário reduzir as taxas de juros. Anteontem, o virtual futuro ministro da Fazenda, Pedro Malan, reiterou que a política do governo não será recessiva. Na área cambial, cogita-se liberalizar as operações e contratos em dólares.
Sabe-se que os altos juros e a política cambial estão entre os nós que o governo terá de desatar. Mas não basta conhecer os problemas para resolvê-los. Sem reformas que dêem consistência às contas públicas, quaisquer medidas serão paliativas e temporárias.
Os juros altos e o dólar baixo, problemas que agora chamam mais a atenção, estão entre os alicerces da queda da inflação até o momento. Abandoná-los pode ameaçar a estabilidade. Mantê-los pode estrangular a indústria. Juros que acompanhem a inflação visam a evitar fuga das aplicações financeiras e explosão de consumo.
Na área cambial, a valorização do real inibe a inflação, mas cria problemas para a produção. Uma taxa de câmbio estável serve de referência para os preços e como pressão contra aumentos em reais. Alternativamente, corrigir a atual desvalorização do dólar e impedir que se crie uma nova defasagem auxiliaria a produção nacional.
O futuro governo deverá agir com base nestas delicadas equações. São decisões de grande envergadura que exigem uma sintonia fina. Delas depende o desenvolvimento do país.

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