São Paulo, quinta-feira, 15 de dezembro de 1994
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Turquia julga brasileira por tráfico

SÉRGIO MALBERGIER
DA REPORTAGEM LOCAL

A paulista Damaris Lisboa Gomes Sardinha, 28, depôs ontem em Istambul (Turquia), onde está sendo julgada por tráfico de drogas. Ela foi presa no dia 24 de abril passado, ao entrar no país com cinco quilos de cocaína.
O Itamaraty (chancelaria brasileira) informou acreditar na inocência de Damaris e está pagando um advogado para defender a brasileira, o que não costuma fazer.
Em seus dois depoimentos anteriores, a brasileira compareceu ao tribunal sem advogado. O juiz já estipulou pena de 20 anos de prisão, mas diplomatas brasileiros na Turquia acreditam que a punição possa ser reduzida. A decisão final deve sair em nova audiência no próximo dia 13 de janeiro.
"Ela é uma moça muito pobre e muito ingênua", disse à Folha por telefone Ivone Wester, encarregada de negócios da embaixada brasileira em Ancara (capital turca).
Segundo Wester, Damaris foi abordada por um homem estrangeiro no Brasil, de nome Jorge, que a convenceu a levar o pacote com "pedras de imitação" (na verdade, cocaína) para Istambul. Em troca, ganharia US$ 4.000.
Ao chegar ao aeroporto de Istambul, Damaris, que nunca tinha saído do país, ao ver algumas pessoas sendo revistadas na alfândega, teria entregue sua mala voluntariamente aos policiais.
Os policiais teriam ficado irritados porque ela não tinha a chave da mala, que estaria com os receptadores da droga no aeroporto.
Damaris divide uma cela com outras detentas no maior presídio de Istambul. Segundo funcionários consulares que a visitam semanalmente, ela está sendo bem tratada.
Damaris morava em Minas Gerais com o marido desempregado e dois filhos e não tem antecedentes criminais. Se diz evangélica e criada sob educação rígida.
A família está sendo informada do desenrolar do processo pela divisão consular do Itamaraty.
Segundo o consulado brasileiro em Istambul, que acompanhou o julgamento ontem, o juiz teria se mostrado mais compreensivo com Damaris. Pela primeira vez, ela não teria chorado no tribunal e parecia menos tensa do que nas duas vezes anteriores.
Ela declarou que transportou a mala porque precisava do dinheiro e achava que continha apenas pedras de imitação. Um funcionário do consulado entregou a Damaris um pacote de bananas, pedido durante uma visita ao presídio.

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