São Paulo, quinta-feira, 15 de dezembro de 1994
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Policiais torcem de costas para o campo

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

Edson Dias Lopes, 30, é palmeirense de não perder jogo. Moacir da Silva, 33, só pensa no Corinthians. Hoje à noite, no Pacaembu, os dois vão estar a poucos metros de seus ídolos. Mas ficarão de costas para o gramado e não mexerão um músculo, como se nada estivesse acontecendo.
Os dois são soldados do 2º Batalhão de Choque da Polícia Militar e estão escalados hoje para o primeiro jogo da fase final do Campeonato Brasileiro. Fazem parte do grupo de 50 soldados que ficarão em torno do campo, de costas para o gramado e olhando para a torcida nas arquibancadas.
"É um sofrimento, mas já me acostumei", diz Silva, pai de dois meninos também corintianos. Silva aprendeu a acompanhar o jogo pela reação da torcida.
"Se a Mancha Verde (torcida do palmeiras) estiver pulando e gritando, eu nem tento olhar para trás. Não quero ver a bola na rede do Corinthians", diz Silva.
Quando o gol é do seu time, ele confessa que não resiste a uma olhada. No final do Campeonato Brasileiro em 90, quando o Corinthians fez 1 a 0 contra o São Paulo, Silva viu o gol de Tupãzinho. "Comemorei quietinho", diz.
O palmeirense Lopes, de família inteira palmeirense, não gostou do que viu em junho do ano passado, quando seu time perdeu a primeira partida de 1 a 0 para o Corinthians. Viola, autor do gol, correu na direção da torcida e, a poucos metros de Lopes, encenou a "dança do porco".
Ficar de costas para o gramado deixa os policiais tensos. À frente, eles têm os torcedores que arremessam pilhas, tênis e até radinhos portáteis. Por trás, correm o risco de uma bolada na cabeça.
"Se a bola acerta na gente e derruba o capacete, é a grande humilhação", diz Silva. "A torcida faz a festa."
O 2º Batalhão de Choque é especializado em eventos culturais e esportivos, explica o tenente-coronel Marcos Alcantara Lima.
Alcantara, como o comandante e tenente-coronel Gerson Rezende, é corintiano. Cabe aos dois a missão de distribuir os 500 homens do batalhão que hoje vão ao estádio.
Uns ficam tristes, como os 50 que estarão de costas para o campo. Outros, como a escolta dos árbitros, assistirão o jogo sentados.

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