São Paulo, quinta-feira, 15 de dezembro de 1994
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De emoções, Serra e Lucena

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO – Mandam as regras do jornalismo que este espaço deva ser usado para falar do principal fato do dia. O principal fato do dia é, em tese, o discurso de Fernando Henrique Cardoso no Senado.
Li o discurso, mas não consegui me sensibilizar. Não que não contenha aspectos importantes, definições de alguma ou muita relevância etc. O problema é que me coube, por designação da Folha, acompanhar o que seria o governo FHC desde os momentos finais da campanha.
Depois dela, me coube também acompanhá-lo nas três viagens internacionais que fez. Do contato, resultaram conversas às vezes longas em que o presidente eleito falou de suas intenções e planos.
Tudo isso apareceu no jornal, a partir de um caderno batizado de "Governo FHC", publicado exatamente no dia seguinte à votação.
Consequência: há muito pouco mais a escrever sobre o discurso do Senado. A não ser reafirmar o que já foi escrito neste espaço: o futuro governo não promete emoções fortes, porque vai cantando antes o que fará ou tentará fazer depois.
Se isso é bom ou ruim, logo vai se saber.
O que turva um pouco essa perspectiva morna, do ponto de vista jornalístico, é a indicação de José Serra para o Planejamento. Serra discorda de um aspecto que vem sendo essencial no plano de estabilização, qual seja o uso do câmbio como instrumento para segurar os preços internos.
Eis aí um eventual foco de futuras emoções fortes. É sintomático que o ministro Ciro Gomes já tenha dito ontem que a indicação cria "tensão". Sobre o assunto, esta Folha traz mais informações páginas adiante, o que abre espaço para uma crítica ao discurso de FHC (elogios, sobra gente para fazer).
Não soa coerente falar de "deputados e senadores cuja presença honraria qualquer Parlamento do mundo" quando o Senado anistiou (e a Câmara está por fazê-lo) o senador Humberto Lucena, que usou a gráfica do Senado em proveito próprio, o que beneficia vários outros parlamentares.

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