São Paulo, quinta-feira, 15 de dezembro de 1994
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Serra vai ajudar?

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA – Raros homens públicos brasileiros são tão preparados como José Serra –se tivesse de fazer uma lista dos dez melhores parlamentares, seria tranquilamente incluído. É visto no Congresso –e mesmo entre alguns de seus amigos– como antipático e obsessivo, sempre disposto a se imaginar perseguido.
Essa imagem é minimizada, porém, pela convicção (justa, diga-se) sobre sua competência. Mas essa competência vai, de fato, ajudar Fernando Henrique Cardoso?
O leitor talvez imagine a pergunta sem sentido. Se ele é tão preparado, apenas poderia ajudar o novo governo. Certo? Tenho dúvidas. Vejamos.
A indicação de José Serra é o primeiro grande lance da sucessão presidencial. A visão generalizada em Brasília (e dentro do PSDB) é de que o futuro ministro vai preparar sua candidatura à Presidência.
No começo deste ano, quando Fernando Henrique ainda não tinha decidido sair candidato, Serra já demonstrava interesse em disputar a Presidência. Imagine-se, agora, como um ministro de destaque, presença constante na mídia, diálogo permanente entre governadores, empresários, parlamentares.
Tradução: ele abre áreas de atrito de potenciais adversários. Não por acaso, Ciro Gomes fez ontem duras críticas a Serra, classificando suas críticas ao Plano Real de desleais. Reservadamente, Ciro acusa-o de ter tentado minar a credibilidade do plano pelos bastidores.
O atual ministro do Planejamento, Beni Veras, comentou que a indicação de Serra é a "crônica de um conflito anunciado". Ele expressa a suspeita de que seu sucessor vai entrar em choque com o ministro da Fazenda, Pedro Malan, desarticulado politicamente. E, a partir daí, outros conflitos viriam com os demais ministérios.
PS – Por enquanto, são apenas especulações. Fernando Henrique e Serra são espertos e inteligentes (até, aliás, disputam para saber quem é mais esperto e inteligente). E justamente por isso vão tentar evitar armadilhas. Mas a julgar pelo clima ontem entre assessores econômicas, não faltarão intrigas.

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