São Paulo, segunda-feira, 19 de dezembro de 1994
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Jovens do Mercosul são consumidores volúveis

NELSON BLECHER
DA REPORTAGEM LOCAL

Enquanto executivos afinam o espanhol e grandes empresas como a Amil, o banco Itaú e a cervejaria Brahma semeiam investimentos no âmbito do nascente Mercosul (Mercado Comum do Sul), a Escala, uma agência de publicidade gaúcha, foi investigar o que pensam e aspiram os jovens consumidores da região.
Com apoio do Ipsa, um instituto de Buenos Aires, a agência entrevistou 400 adolescentes na faixa de 12 a 18 anos, educadores e psicólogos.
Concluiu que, ao menos no que se refere às tendências de consumo e profissionais, há mais semelhanças do que diferenças a unir teens de ambas as nacionalidades.
Essa identidade transparece na franca infidelidade às marcas e aos pontos comerciais por eles frequentados, ao gosto por engenhocas eletrônicas e na valorização do conforto em detrimento da moda.
"Os jovens não carregam mais o peso das ideologias e, por isso, são consumidores altamente volúveis", afirma a publicitária Kenya Martins Couto, ao interpretar porque porque oito em cada dez entrevistados passam a curtir um "point" e, em seguida, saltam para outro.
Mais dispostos a conviver com a diversidade do que as gerações anteriores, a maioria dos entrevistados repudia a valorização apenas de marcas com que se identificam.
Kenya alerta as empresas com sotaque portunhol para a necessidade de reforçar suas estratégias de marketing e publicidade. "Manter a participação de mercado e a lembrança das marcas será cada vez mais difícil e caro", afirma ela.
Essa tendência à infidelidade também é projetada no campo profissional. Nada menos que 83% dos argentinos e 77% dos brasileiros dizem que preferem construir uma carreira de acordo com seus próprios interesses do que vestir a camisa da empresa.
Nessa linha, convém também repensar a eficácia de promoções com brindes. Metade dos entrevistados prefere show. Escolas? uma chatice. Mais de 90% acham que o saber provém do "talento e motivação", o que abre campo para quem vende computadores ou aposta em hobbies educativos.
As grifes que se cuidem. Sete entre dez jovens "mercosulinos" trocam o carro da moda por outro que proporcione mais conforto. Será rançoso posicionar um produto com o apelo baseado na aceitação coletiva ou fincar pé demais na elegância.
"O efeito 'cocooning' já se instalou entre os jovens do Mercosul", afirma Kenya, ao se referir à tendência observada pela especialista norte-americana Faith Popcorn, segundo a qual os contingentes se refugiam no casulo do lar, em vez de buscar programas de rua.
"As empresas devem rever seus canais de distribuição dos produtos", diz Kenya.
Serão privilegiadas as que lançarem mão de catálogos de venda direta ou exibirem pontos de venda atraentes a ponto de convencer oito entre dez consumidores a levantar do sofá.

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