São Paulo, terça-feira, 20 de dezembro de 1994
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O " off" e a equipe de um

LUÍS NASSIF
O OFF E A EQUIPE DE UM

Por respeito à objetividade, está na hora de se parar de atribuir declarações em " off" à tal equipe econômica. Quem tiver argumentos a favor ou contra a política cambial, contra este ou aquele candidato a ministro, que os apresente claramente, sem necessidade de atribuí-los a essa ficção chamada de " equipe econômica".
Quem é o autor das declarações? Seriam Pedro Malan e Pérsio Arida, que defenderam e elogiaram a escolha de Serra?
Teria sido um intelectual sofisticado como Edmar Bacha o autor da declaração de que os defensores da candidatura Serra integrariam um lobby organizado que buscaria a volta dos financiamentos subsidiados? Gustavo Franco, autor de estudos tão acurados sobre inflação e política industrial, produziria simplificação tão grosseira de divergências a respeito do tema? Duvido.
Mas se se atribuem as declarações à "equipe", significa que houve concordância geral de todos eles a respeito dessas valentias em " off". Ou não? A não ser que a vontade de inovar na economia –ou no jornalismo econômico– tenha criado a figura da equipe de um.
Na academia, esse joguinho de poder é mais comum do que se pensa. Lá, costumam-se queimar aliados e inimigos com declarações de botequim, para em seguida se refazer alianças e enaltecer o criticado de ontem, dependendo das conveniências de grupos.
No final do Cruzado, esse jogo de mesquinharias ficou muito nítido. Eficaz para ambientes fechados, quando exposto ao holofote da cobertura jornalística, tornava-se ridículo. " Maquiavéis" de academia moviam-se sutilmente pelos desvios do poder –com seus movimentos sendo captados por centenas de milhares de leitores, tal e qual a parabólica de Ricupero.
Para a opinião pública, passa a imagem de covardia, de pessoas que não tem caráter nem coragem de bancar as próprias opiniões. Depois, de falta de brios, por conservarem o posto, mesmo tendo sido derrotados naquilo que sua pequenez transformou em matéria de fé. Finalmente, de falta de grandeza, por colocarem o jogo de poder acima das conveniências do país.
Por tudo isto, sempre duvido de declarações atribuídas a esse genérico " equipe econômica".

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