São Paulo, sexta-feira, 23 de dezembro de 1994
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Exército faz primeira ação fora do Rio

SERGIO TORRES
DA SUCURSAL DO RIO

O Exército começou a procurar ontem em Niterói (cidade a 15 km do Rio) os traficantes que teriam deixado as favelas cariocas após o início da Operação Rio, de combate a criminalidade.
Cerca de 500 militares do Exército vasculharam o aglomerado de favelas do morro do Estado, no centro de Niterói. Foi a primeira ação fora do Rio desde o início da operação, em 30 de outubro.
O Exército buscava traficantes como Ernaldo de Pinto Medeiros, o Uê, apontado pelas polícias civil e militar como a principal liderança da facção criminosa CV (Comando Vermelho) em liberdade.
Uma informação obtida pelo serviço de inteligência do CML (Comando Militar do Leste) indicava presença de Uê no morro do Estado. Uê estaria protegido por Robinho, suposto comandante do tráfico na maior favela de Niterói, com cerca de 15 mil habitantes.
As favelas que formam o complexo –Estado, Arroz, Caniço e Chácara– foram examinadas pelo Exército e pela PM (Polícia Militar) das 4h às 12h30.
Crianças e adultos foram revistados. As duas escolas e o posto de saúde nem chegaram a funcionar, pois os funcionários não conseguiram subir até o alto do morro.
O resultado da ocupação frustrou os objetivos militares. Não foram presos Uê ou qualquer outro criminoso importante. Em lugar deles, o Exército deteve dois menores, encaminhados à Divisão de Proteção à Criança e ao Adolescente da Polícia Civil. Eles teriam tentado fugir ao assédio militar.
Os militares disseram ter achado um uniforme do Exército, quantidade pequena de munição para armas de calibres 7.65, 9 e 45 milímetros, além de material para confecção de papelotes de cocaína.
Também deverão ser percorridos outros morros em Niterói, como Cavalão, Coréia e Nova Brasília, além de favelas na cidade vizinha de São Gonçalo e nos municípios da Baixada Fluminense.
Parte dos militares chegou ao morro do Estado em helicópteros. Por terra, os acessos foram fechados. O Exército proibiu a ida de jornalistas até o alto do morro onde funcionou um posto de triagem dos suspeitos detidos.
No local, segundo apurou a Folha, centenas de pessoas foram revistadas. A professora Rita Sant'Anna, que trabalha na escola da prefeitura no morro, disse que se sentiu constrangida.
"É uma situação desagradável", afirmou ela. As crianças também tiveram de encostar nas paredes, com braços estendidos, a fim de ter as roupas vistoriadas por militares e policiais.
PF
O morro da Boa Vista, em Niterói, estaria funcionando como abrigo de traficantes do Rio, segundo informação da Polícia Federal. Ontem de madrugada, 50 homens da Polícia Federal entraram na favela e prenderam três homens, entre eles um suposto traficante da Favela do Arará, no Caju, e apreenderam sete armas.

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