São Paulo, sexta-feira, 23 de dezembro de 1994
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O capital do governo

JANIO DE FREITAS
O CAPITAL DO GOVERNO

Seis dos escolhidos para o novo ministério representam nele o grande empresariado, em especial os grandes industriais paulistas, mas só cinco o integram como representantes estritamente político-partidários. Sem negar a importância a concentração de paulistas e apaulistados –um tipo de técnico e de político que tende a reduzir o Brasil a São Paulo, porém nunca a estender São Paulo ao resto do Brasil–, a força administrativa concedida ao grande empresariado vale por uma definição antecipada do próximo governo.
Dorothéa Werneck volta ao governo por indicação empresarial. Quando intermediou, no governo Sarney, negociações envolvendo capital, trabalho e preços, Dorothéa Werneck encantou os representantes empresariais, em particular os dos setores automobilístico e farmacêutico. Recebeu, então, reciprocidades muito gratificantes, prosseguidas com sua ida posterior para São Paulo. A indicação inicial era para o Ministério do Trabalho, mas prevaleceu a alternativa, também muito satisfatória para os indicadores, do Ministério da Indústria e Comércio.
Entre políticos, inclusive do PSDB, ouvem-se expressões como "conspiração Serra", para designar a articulação de pressões que levaram Fernando Henrique a dar o Planejamento a José Serra. Já ficou narrado aqui que os agentes da manobra foram grandes industriais paulistas, o que dispensa acréscimos.
Sérgio Motta, por muitos considerado o ponto nevrálgico do futuro governo e do próprio Fernando Henrique, pode ser visto como representante de todos os setores empresariais. Desde que grandes. Sua ligação mais autêntica, como empresário, é com a indústria de construção. No Ministério das Comunicações fará a mediação entre verbas faraônicas e os interesses de grupos empresariais que se voltam para as numerosas oportunidades das telecomunicações.
Não se pode dizer que José Eduardo Andrade Vieira só tenha chegado ao ministério por sua inserção empresarial, ou por sua colaboração política na campanha de Fernando Henrique. Foi uma combinação dos dois fatores. Mas, se alguns banqueiros não o dariam como representante do setor, por certas divergências, Andrade Vieira é o próprio banco –o seu, Bamerindus. Situa-se, pois, entre os que têm ótica fundamentalmente empresarial.
A Casa Civil da Presidência está entregue a um representante da indústria pesada, não significando isto que a representação não se estenda a outros ramos empresariais. Diretor da Aços Villares, Clóvis Carvalho é, há muito tempo, uma espécie de ponta-de-lança de José Serra.
O professor Luiz Carlos Bresser Pereira é o caso mais complicado. Era dos raros, no PSDB, a ter uma concepção verdadeiramente social-democrata. Além de verdadeira, bem fundamentada. Com a adoção do neoliberalismo do Consenso de Washington pelo PSDB, conduzido por Tasso Jereissati e Fernando Henrique, Bresser Pereira acabou atingindo o social da sua concepção social-democrata. Até onde, não está claro. Sem dúvida, porém, a julgar por seus escritos a partir da campanha eleitoral, em medida bastante para ser mais lembrado por suas atividades na indústria e no comércio de gêneros de primeira necessidade.
Na face estritamente político-partidária do ministério, estão, teoricamente pelo PMDB, Nelson Jobim e Odacir Klein, na Justiça e nos Transportes. Pelo PTB e, sobretudo, pelo governador mineiro Hélio Garcia, Paulo Paiva no Trabalho. E, pelo PFL, Reinhold Stephanes na Previdência e Raimundo Brito, este no ministério dado a Antônio Carlos Magalhães, o de Minas e Energia. Gustavo Krause não chegou ao Meio Ambiente e Recursos Hídricos pelo corredor do PFL, mas por um compromisso do início de campanha: como Fernando Henrique precisasse de um palanque em Pernambuco, Krause foi para o suicídio contra Miguel Arraes, mas com a compensação de um lugar já reservado no ministério se Fernando Henrique vencesse.
Além de minoritários, os representantes estritamente político-partidários estão excluídos dos ministérios economicamente importantes. Ao contrário dos representantes empresariais.

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