São Paulo, sexta-feira, 23 de dezembro de 1994
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Possibilidades do ministério FHC

LUÍS NASSIF
POSSIBILIDADES DO MINISTÉRIO FHC

No ministério de Fernando Henrique Cardoso, há outros nomes a se observar, além daqueles abordados na coluna de anteontem.
A indicação de Edson Arantes do Nascimento para a Secretaria Extraordinária de Esportes tem significado internacional, não apenas pelo nome de Pelé.
Nos últimos anos, os esportes tornaram-se atividade de enorme importância econômica. Apesar de esporte mais popular do planeta, o futebol jamais logrou organização semelhante ao do basquete norte-americano. Como país de maior prestígio no esporte, o Brasil foi o trampolim que permitiu o controle da Fifa por João Havelange. Acabou reproduzindo-se internacionalmente o estilo tupiniquim de poder, que não chega a ser um espelho de transparência.
A falta de modernização nas estruturas internas do futebol, tornou-o um dos guetos mais obscuros e malcheirosos da vida nacional. Um sistema onde convivem políticos fisiológicos, bicheiros, dirigentes profissionais (embora não profissionalizados) e interesses dos mais suspeitos, impedindo qualquer vento de modernização.
As represálias adotadas tempos atrás por Havelange contra o Flamengo, quando o clube tentou se insurgir contra a CBF, e a falta da reação interna a essas truculências, foram humilhantes para o país.
O prestígio internacional de Pelé, mais a retaguarda do governo brasileiro –e, se não for pedir muito, a atuação severa do Ministério Público Federal– permitirá pela primeira vez romper-se esse abscesso e conferir-se ao futebol uma organização e importância econômica à altura do talento dos nossos jogadores.
Gerenciamento
Outro ponto a se observar no ministério FHC é que, pela primeira vez em dez anos, dá-se a devida importância aos aspectos gerenciais do governo, com a constituição de um tripé operacional de alta qualidade.
Junto à Presidência, o chefe da Casa Civil Clóvis Carvalho, homem de ampla experiência gerencial no serviço público e privado, terá a função coordenar e acompanhar os programas de governo. Terá como interface na Fazenda o secretário-geral Pedro Parente –um dos mais competentes e responsáveis funcionários públicos que este colunista já conheceu, além de profundo conhecedor da máquina– e no Planejamento o economista Andréa Calabi.
A Agricultura poderá reservar boas surpresas com o ex-ministro da Indústria e do Comércio José Eduardo Andrade Vieira. No MICT, Andrade Vieira acertou no alvo, quando manteve as câmaras setoriais, permitindo o histórico acordo da indústria automobilística. E deu tiro fora, quanto teimou em ressuscitar a estrutura burocrática do antigo Instituto Brasileiro do Café.
Antes de banqueiro, trata-se de um agricultor de mão cheia, que conseguiu em sua fazenda Mitacoré, no Paraná, índices de produtividade de milho, soja e trigo superiores aos dos Estados Unidos e similares aos da França. Se canalizar seu dinamismo para levar as bandeiras da qualidade e produtividade ao campo, assim como para modernizar os instrumentos de comercialização agrícola, marcará época. Se se aferrar aos velhos modelos autárquicos, não terá vida longa.
Na Justiça, o deputado Nelson Jobim terá papel decisivo na formulação das propostas para a revisão constitucional.
O colunista não dispõe de maiores informações sobre o Secretário de Integração Regional Cícero Lucena. Mas, pelos resultados alcançados pela Paraíba no pólo de tecnologia de Campina Grande –no qual o governador-pistoleiro Ronaldo Cunha Lima (padrinho do secretário) teve papel decisivo– não é prudente confundi-lo com velhos caciques nordestinos.

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