São Paulo, sexta-feira, 23 de dezembro de 1994
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Diretor se define 'quarentão adolescente'

MARCEL PLASSE
FREE-LANCE PARA A FOLHA

O diretor Charles Russell, 40, veio acompanhar a estréia de "O Máskara" no Brasil.
Definindo-se, em entrevista no hotel Maksoud (Cerqueira César, região central), como um quarentão que ainda pensa ter 16 anos, Russell é mais conhecido por seu apelido de infância, Chuck –com o qual assinou seus primeiros filmes, entre eles "A Bolha Assassina" e "A Hora do Pesadelo 3".
Apesar de dirigir há sete anos, "O Máskara" é seu primeiro grande sucesso de bilheteria.
O filme também marca um impulso na carreira do ator Jim Carey, que acabou roubando de Robin Williams o papel do vilão Charada em "Batman 3".
Folha - O uso de elementos de diversas culturas em "O Máskara" foi um artifício visando o mercado internacional?
Charles Russell - Sim. Um dos meus propósitos era fazer um filme com humor universal, que não dependesse tanto da linguagem para ser entendido. Por isso, a maioria das gags acontece em silêncio, quase como num filme mudo. Quando editei o filme, trabalhei sem o som, para ver se realmente tinha alcançado o meu objetivo.
Além disso, usei músicas de diferentes períodos e países. Na verdade, a influência latina –os ternos e chapéus grandes dos imigrantes latinos de Los Angeles nos 40– marca o estilo do filme.
Foi muito interessante poder observar a aprovação do público brasileiro. Fiquei fascinado.
Folha - Por que o filme é diferente do gibi em que se baseia?
Russell – No gibi, o personagem coloca uma máscara e mata a todos. Mas, na minha concepção, alguém com o rosto verde e um terno amarelo é mais engraçado do que assustador.
A princípio, os produtores recusaram fazer de "O Máskara" um filme de humor. Durante um ano, tentaram outros diretores, até aceitar o meu conceito de comédia.
Folha - "O Máskara" tem muita influência de desenhos animados. Isso já estava no roteiro original?
Russell - Não, o roteiro era uma história de vingança violenta. Mas mesmo em "A Hora do Pesadelo 3" fiz de Freddie um Pernalonga do além. A grande influência é Tex Avery, um gênio da animação dos anos 30.
Folha - "O Máskara" funcionaria com outro ator principal?
Russell - Não, o filme foi concebido para Jim Carey. Ele não era muito conhecido quando o vi atuar num show, como um desenho animado vivo, e imaginá-lo no papel.
Folha - O quanto "O Máskara" pesou no convite a Jim Carey para estrelar "Batman 3"?
Russell - Na verdade, fui eu quem chamou Joel Schumacher para conhecer o trabalho de Jim. Eu o chamei durante a edição do filme: 'Sei que você está dirigindo 'Batman 3' e procura um Charada'. Assim que viu Jim na moviola, Joel definiu o convite.
Folha - Depois de ter escrito "A Morte nos Sonhos" e dirigido "A Hora do Pesadelo 3", a sequência de sonho em "O Máskara" foi só uma coincidência?
Russell - Não, eu adoro sonhos. Acho fascinante o fato de que um bancário ou qualquer um com uma vida chata possa viajar para o mais incrível dos mundos ao dormir.
Existe uma tribo na Malásia que acha que a realidade é menos importante que os sonhos. Talvez eu seja dessa tribo.

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