São Paulo, sábado, 24 de dezembro de 1994 |
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Rates foi garimpeiro, presidiário e pai fujão
ARMANDO ANTENORE
Por volta de 1700, o pai postiço deixou Lisboa e retornou para Amsterdã. Henequim negou-se a acompanhá-lo. Não queria viver em "terra de apóstatas". À época, corriam pela Europa as primeiras notícias da descoberta de ouro no Brasil. Henequim, atraído, resolveu mudar-se para Minas Gerais. Permaneceu por lá entre 1702 e 1722. Conheceu aventureiros de toda espécie. Atravessou noites e dias em clima de faroeste. Voltou para Portugal com a intenção de se tornar padre. Mal pôs os pés em Lisboa, se apaixonou por uma jovem de 14 anos, Joana Maria da Encarnação. Engravidou-a, mas não assumiu o filho, ato que lhe custou alguns anos no presídio do Limoeiro. Quando saiu da cadeia, conspirou contra o rei dom João 5º. Foi preso de novo em 1739, desta vez na Casa de Suplicação. Levou para o cárcere um baú cheio de manuscritos "secretos". Eram aproximadamente 40 páginas, em que desenvolveu 101 proposições sobre a criação e funcionamento do Universo –inclusive as que tratavam do Brasil. Pouco a pouco, revelou aos carcereiros o conteúdo dos papéis. O desembargador Joaquim Rodrigues da Santa Marta Soares, que administrava a Casa de Suplicação, acabou tomando conhecimento das idéias de Henequim. Considerou-as heréticas e denunciou o profeta à Inquisição em 1741. "A vida de Henequim demonstra como Portugal podia ser, no fim do século 17 e início do 18, uma encruzilhada de tradições culturais", diz Laura de Mello e Souza, orientadora de Freire Gomes. "O profeta tinha obsessão em buscar significados na combinação de números e letras –o que indica influência da cabala judaica. Ao mesmo tempo, conhecia Santo Agostinho e outros teóricos cristãos, além de línguas antigas como o hebraico." (AA) Texto Anterior: Deus brasileiro leva português à fogueira Próximo Texto: Kleenex; Carpaccio Índice |
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