São Paulo, sábado, 24 de dezembro de 1994
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Pacote de CDs traz os maiores sucessos dos Titãs

MARISA ADÁN GIL
DA REVISTA DA FOLHA

O rock nacional já tem história. De Cely Campelo a Raimundos, passando por Mutantes e Raul Seixas, muito se produziu e reciclou. Nada mais natural, portanto, que surja no mercado a primeira caixa de CDs do rock'n'roll tupiniquim.
Faz sentido, também, que caiba aos Titãs introduzir aqui mais esse elemento da cultura roqueira. Afinal, esse é um papel que eles sempre cumpriram muito bem: o de trazer e adaptar para o cenário brasileiro informações sonoras de outra maneira inacessíveis.
Os Titãs já chegaram naquele estágio de "trilha sonora" de uma geração. É uma delícia ouvir os dois CDs de ponta a ponta, recuperando memórias perdidas. Sim, eles são uma grande banda. Apesar da esquizofrenia de vários-grupos-num-só, e apesar das camisas-de-força que tiveram que inventar para contê-la: discos "conceituais", divisões democráticas (entre gêneros, compositores e vocalistas), mudanças drásticas de um disco para outro.
"Titãs 84 94" traz 41 faixas, separadas em dois CDs. A idéia, segundo o baixista Nando Reis, foi separar as composições por "eixos": o disco "Um" é mais pop, o "Dois" é mais rock. Se a divisão é clara, não é ortodoxa; várias faixas poderiam trocar de CD sem problemas. Não há nada inédito ou raro –foram escolhidas, segundo Nando, "músicas que fizeram sucesso em rádio e show". Assim, "Cabeça Dinossauro" aparece quase na íntegra (11 canções), enquanto músicas como "Medo", "Pavimentação" e "Mentiras" ficam de fora.
Outra que não entrou foi "Insensível". Uma pena, já que marca o final de uma das fases mais interessantes da banda –quando transitava entre o brega, o rock e a new wave. "Titãs" (1984) e "Televisão" (1985), representantes dessa fase, são geralmente relegados a um segundo plano, como mero prelúdio para a "virada" de "Cabeça Dinossauro" (1986).
Não há o que discutir sobre "Cabeça". Se você estava em Marte na época, compre, para ter na íntegra. A caixa traz quase todos os hinos do disco. É curioso pensar como eles foram ousados, numa época (1986) em que rock pesado ainda não estava na moda (lembra do RPM?).
Liminha, o "nono Titã", havia se reunido ao grupo em "Cabeça". Em "Jesus", ele mostrou a que veio, com um trabalho impecável e detalhista. "Comida" seria séria candidata à melhor coisa já gravada pela banda –não fosse por "Miséria", pérola absoluta de "Õ Blesq Blom" (1989). Foi o último grande disco dos Titãs (até agora, pelo menos).
"Não é por não falar" e "Obrigado" atestam a queda: perdem para qualquer faixa de "Cabeça", por exemplo. "Saia de Mim", porém, segura a onda, fazendo bom uso da produção suja (foi o primeiro disco da fase pós-Liminha). A coletânea fecha em curva ascendente com as faixas de "Titanomaquia" (já sem Arnaldo), bem superior ao anterior.
Para 95, eles prometem um disco novo. Mal dá para esperar.

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