São Paulo, terça-feira, 27 de dezembro de 1994
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Texto do 'NP' é eficaz ao retratar violência

DA REPORTAGEM LOCAL

A chamada linguagem popular pode ser uma forma eficiente de retratar a violência urbana.
Para chegar a essa conclusão, a professora de português Ana Rosa Ferreira Dias, 42, fez uma rigorosa leitura do jornal "Notícias Populares" (ou "NP"), editado pela empresa Folha da Manhã S/A, a mesma que edita a Folha.
O resultado de sua investigação está exposto em "O Discurso da Violência", tese de doutorado defendida na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP, no último dia 14.
A análise de Ana Rosa parte de 500 notícias publicadas pelo "NP" ao longo de 30 dias.
Ela também se vale de um questionário aplicado junto a 45 leitores do jornal, na tentativa de compreender como eles vêem o "NP".
Ana Rosa disseca as características do texto do jornal. Além da oralidade, a pesquisadora destaca o estilo hiperbólico do "NP" ("Chove multa adoidado desde que a Prefeitura assumiu o controle do trânsito"), o uso de frases feitas ("gastar saliva") e a malícia, entre outros elementos.
A análise se estende ao nível fonético do discurso (o uso de onomatopéias em manchetes, por exemplo) e ao nível morfológico (o "NP" transforma delegado em "delega" e Erundina em "Erunda" em seus títulos, por exemplo).
O texto do "NP" se completa com um uso intensivo de gírias –"a característica mais marcante do vocabulário empregado na linguagem do jornal", escreve.
Em sua leitura, Ana Rosa observa que os preconceitos contra mulheres e homossexuais são elementos marcantes do discurso.
Outra crítica da pesquisadora diz respeito a manchetes que não correspondem ao relato dos fatos –"uma prática comum e condenável no discurso" do jornal.
A pesquisadora seleciona 24 textos para mostrar como os elementos que constituem o discurso do "NP" são eficientes na aproximação entre o jornal e os leitores.
Ana Rosa conclui, primeiro, que "o uso da linguagem popular passa, às vezes, por um processo de elaboração cuidadoso".
A pesquisadora observa, por fim, que o "NP" ocupa um lugar "singular" na imprensa de São Paulo e que "se se quiser traçar a história das classes marginais urbanas" será preciso "percorrer as páginas do jornalismo popular".

Texto Anterior: Souza foi reitor da Unicamp
Próximo Texto: Aumento do IPTU começa a ser votado hoje
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.