São Paulo, terça-feira, 27 de dezembro de 1994
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Jim Sheridan está cansado da seriedade

ELAINE GUERINI
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE DUBLIN

Jim Sheridan, 45, cansou de fazer filmes sérios. Depois de "Meu Pé Esquerdo", "Terra da Discórdia" e o polêmico "Em Nome do Pai", o diretor irlandês decide surpreender o público com uma comédia. Seu próximo filme vai contar a sua própria história: as "aventuras" de um irlandês tentando ganhar a vida nos EUA.
A Universal aprovou a idéia e Sheridan já começou a escrever o roteiro. A intenção do cineasta é retratar com bom humor o cotidiano dos imigrantes irlandeses na América. Em destaque, o filme vai mostrar os problemas financeiros, legais e conjugais do casal Sheridan –o diretor passou sete anos vivendo em Nova York com a mulher e as filhas.
Durante este período (1981-88), Sheridan fez de tudo um pouco. Atuou como diretor artístico do Irish Arts Center local, escreveu novelas para a TV e trabalhou como motorista de táxi.
Em entrevista exclusiva à Folha, concedida em um restaurante italiano em Dublin, na Irlanda, Sheridan falou sobre a vida nos EUA, a proposta do filme e a ascensão do cinema irlandês –seu irmão, o escritor e diretor de teatro Peter Sheridan também vai atuar como cineasta (leia texto abaixo).
Depois de dirigir "Em Nome do Pai" (1993), Sheridan esteve ocupado trabalhando em duas outras produções, uma para o teatro e outra para a TV.
O cineasta filmou um documentário sobre o estilista John Rocha e escreveu e dirigiu a peça "The Risen People", uma das principais atrações do Dublin Theatre Festival, em outubro passado.

Folha - Por que você resolveu fazer uma comédia neste momento da sua carreira, quando o seu nome começa a se associar com assuntos sérios?
Jim Sheridan - Sempre quis fazer comédia. Em toda a minha vida, sempre fui um cara engraçado, daqueles que fazem piada o tempo todo. Se meus três primeiros filmes seguiram uma linha mais séria, foi apenas uma coincidência.
Para falar a verdade, acho que ainda é muito cedo para tirar alguma conclusão quanto ao meu estilo. No momento, quero tentar uma linha diferente. Desta vez, quero explorar o meu lado cômico.
Folha - Como surgiu a idéia de adaptar para a tela a sua própria história?
Sheridan - Essa idéia de fazer um filme sobre os imigrantes irlandeses nos EUA é antiga. Comecei a pensar no assunto há quatro anos, logo depois que terminei de filmar "Terra da Discórdia".
Como apareceram outras histórias no meio do caminho, acabei deixando o assunto de lado. Só mais tarde, quando voltei a pensar em roteiros é que tive a idéia de aperfeiçoar o antigo projeto e fazer a minha própria história.
A proposta do filme é mostrar o lado alternativo da América. Passei por esta experiência, vivi todas as dificuldades, inclusive com o departamento de imigração.
Na época, não achava a vida de imigrante engraçada. Mas, hoje, olhando para trás e lembrando todos os obstáculos que enfrentei, cheguei à conclusão que a história rendia uma comédia. Passei sete anos vivendo no país e nunca ganhei mais do que US$ 5 por hora.
Folha - Você também foi atraído pela falsa idéia de fazer fortuna nos EUA?
Sheridan - Meu caso foi diferente. Na época em que deixei a Irlanda, estava sofrendo de uma espécie de claustrofobia. Liderava o Project Art Centre (grupo de teatro alternativo) e estava enfrentando problemas com a censura. Comecei a me sentir sufocado e tive que deixar o país.
Folha - Já pensou no ator para fazer o seu papel no filme?
Sheridan - Não, ainda não. Mas, com certeza, não vou escolher nenhum ator gordo e baixinho como eu (risos). Quero um cara bonito e alto. Quem sabe o meu amigo Bono (o vocalista do U2). Preciso de um ator que consiga por si só atrair o público, alguém como o Daniel Day-Lewis.
Folha - É verdade que você recebeu uma proposta do Steven Spielberg?
Sheridan - É verdade. Apesar de o Spielberg não ter deixado nenhum Oscar para mim, eu gosto muito dele. Ele está pensando em fazer um filme sobre Sarajevo e me pediu para escrever um roteiro. Talvez eu faça isso mais tarde. O problema é que agora eu estou trabalhando na minha história. Se ele puder esperar...
Folha - Como você classifica a atual fase do cinema irlandês?
Sheridan - Estamos vivendo a nossa melhor fase. Há alguns anos, ninguém sabia que existiam cineastas por aqui e hoje o nosso cinema já é reconhecido mundialmente. O trabalho reafirmou nossa identidade e provocou um sentimento de orgulho nos irlandeses.
O trabalho do Neil Jordan também tem sido muito importante neste sentido (em início de carreira, Sheridan e Jordan trabalharam juntos montando peças infantis em Dublin). Mas em termos de indústria, nós não podemos nem pensar em competir com os ingleses e muito menos com os americanos.
Folha - E quanto à idéia de montar a sua própria produtora de filmes em Dublin?
Sheridan - Eu e o Arthur Lappin (que trabalha na produção dos filmes de Sheridan) estamos pensando seriamente no assunto. Além dos meus próximos trabalhos, a empresa também poderia produzir filmes de outros diretores. A idéia é usar tudo o que nós aprendemos para ajudar aqueles que estão começando.

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