São Paulo, terça-feira, 27 de dezembro de 1994
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Objetivo era envolver França na guerra civil

ANDRÉ FONTENELLE
DE PARIS

O objetivo dos sequestradores, aparentemente, era envolver os franceses na guerra civil não-declarada que vive a Argélia.
A França lutará inexoravelmente contra o terrorismo e não cederá à chantagem, disse ontem o premiê Edouard Balladur, que se declarou responsável pelo resgate.
Paris suspendeu ontem toda ligação aérea ou marítima entre os dois países feita por empresas francesas e pediu aos franceses cuja presença não é indispensável que deixem a Argélia.
Desde 1993, mais de 6.000 franceses já abandonaram o país, deixando a comunidade reduzida a poucas centenas, além de uns 20 mil com as duas nacionalidades.
Como ex-colonizadora (a Argélia se tornou independente em 1962) e aliada do atual regime autoritário argelino, a França é adversária dos fundamentalistas.
Acusado de apoiar Argel na repressão aos radicais muçulmanos, Balladur disse que a França não toma partido no conflito.
Anuar Haddam, um dos líderes da FIS (Frente Islâmica de Salvação), ex-partido radical islâmico, disse em Washington (EUA) que o sequestro mostra a frustração dos argelinos em relação à França.
Em janeiro de 92, o governo argelino cancelou as eleições legislativas, para evitar a vitória da FIS.
Mais de 10 mil pessoas teriam sido mortas na luta entre o governo e os grupos fundamentalistas, como o GIA e o Exército Islâmico de Salvação, braço armado da FIS.
Nos últimos 15 meses, grupos islâmicos mataram 15 franceses na chamada jihad (ou guerra santa).
Há vários meses especialistas temiam uma operação contra os interesses estrangeiros na Argélia.
A presença da Air France era, para vários argelinos, prova do desejo do governo francês de não se afastar totalmente da Argélia.
Foi uma operação cuidadosamente planejada, disse um especialista em segurança francês sobre o sequestro. Ao contrário de atentados contra estrangeiros no país –72 assassinatos desde 1993.

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