São Paulo, sábado, 31 de dezembro de 1994
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Contrastes

JANIO DE FREITAS
CONTRASTES

A grandiosidade e a pompa dos festejos e solenidades da posse de Fernando Henrique Cardoso são duplamente desrespeitosas para com a grande maioria do país. Pelo custo da ostentação, no que é pago pelos cofres públicos, e pelo indecoroso pagamento, por empresas privadas, de parte das festividades de posse de um presidente da República –a "festa popular" desejada por Fernando Henrique, supõe-se que para haver alguma idéia de povo, embora posto a uma distância sanitária, na sua ascensão ao poder supremo.
Nada justifica tanta falta de sobriedade e tanto exagero ostentatório. É impossível compatibilizar tamanha pompa e tão altos gastos com a austeridade prometida pela própria personagem central do despropósito e, tampouco, com os novos cortes de gastos governamentais, já mencionados pelo seu ministro do Planejamento.
Só para as despesas do Itamaraty foi liberado o equivalente a US$ 3,52 milhões. Nos hotéis de Brasília foram reservados 450 apartamentos para uma parte dos convidados de Fernando Henrique. A fachada do Planalto foi submetida a uma geral. A Câmara foi além no seu plenário, onde se dará o ato de posse, dotando-o de nova iluminação, como se não estivéssemos cansados de ver com clareza o plenário nas TVs. Do custo total, porém, só se ficará sabendo que foi imenso. Não há possibilidade de conhecer os valores de inúmeras despesas complementares das solenidades, com a engalanada festa oficial, com a infra-estrutura geral.
E tudo isso poucos dias depois que os maiores jornais do país encartaram em suas edições, já presentes nelas as notícias sobre a grandiosidade exorbitante da posse, sacolas para doação de gêneros a uma parcela dos milhões de miseráveis deste país. Deste país que nem mais se dá conta da vergonha que é precisar de uma Campanha Contra a Fome.
Favorecimento
A verdadeira motivação das intervenções no Banespa e no Banerj caracteriza um privilégio deliberado já pelo futuro governo, em benefício de dois governadores eleitos, não por acaso, do PSDB.
A situação do Banespa é, de longe, a mais grave dentre todos os bancos estaduais com problemas. Uma ameaça ao governo de Mário Covas, que seria obrigado a malabarismos financeiros capazes de comprometer sua administração irremediavelmente. Com a intervenção, o governo federal é que vai injetar o dinheiro e praticar os atos traumatizantes para sanear o banco. Por conveniências políticas, a intervenção no Banespa puxou a intervenção no Banerj, estendendo a Marcello Alencar, secundariamente, o privilégio dado a Mário Covas.
O favorecimento aos dois peessedebistas contraria tudo o que vinham dizendo há muito tempo sobre os problemas de bancos estaduais, o presidente eleito e os seus economistas.
Ontem e amanhã
A parte mais importante no trabalho do jornalista que lida com informação não lhe pode ser atribuída: deve-se aos que lhe dão informações. Fala-se muito, nestes tempos adoecidos de marketing, em repórter investigativo, passando a imagem de uma categoria muito especial de jornalistas-sherlocks capazes de descobertas formidáveis. Pura fanfarronice promocional: há sempre quem deu a pista, quem forneceu a informação, quem proporcionou o documento ou o acesso a ele. Estas pessoas são a peça fundamental no jornalismo. Aos que me deram tal ajuda ao longo do ano, o meu reconhecimento.
A todos, informantes e leitores, os meus votos de que a realidade de 95 corresponda às suas esperanças.

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