São Paulo, sábado, 31 de dezembro de 1994 |
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Prova é garantia de divertimento
LUIZ FERNANDO BARRETO
Foi o que aconteceu comigo na primeira vez que corri, em 1985. Eu praticava remo e era obrigado a ficar na cidade para treinar. Como o remo é um esporte que exige muito preparo físico, as corridas eram frequentes. Então, reuni um grupo de colegas e, no dia 31, em vez de treinarmos na Cidade Universitária, fomos correr a São Silvestre. Estava ali para me divertir, o resultado não importava. Tanto que, antes da corrida, ceei –e bem! Com direito a tender e tudo. Naquela época, a prova era disputada à noite e terminava já perto da virada do ano. Quem fizesse o percurso em cerca de uma hora, chegaria à av. Paulista a tempo de ver a queima de fogos no alto do prédio da Gazeta. Saímos lá atrás, junto com aquela multidão de corredores. Ali, não há condições de se fazer aquecimento. Se alguém começa a saltar, por exemplo, todo mundo tem que saltitar junto, pois, senão, leva pisão no pé. Sai cotovelada, tem gente contando piada, gente descalça. Lembro-me de umas moças sambando de maiô que quase comprometeram a largada. Quando a prova começa, é melhor ir devagar para não atropelar ninguém. A av. Paulista é o pedaço mais divertido, onde há gente assistindo e aplaudindo. Mas o percurso guarda surpresas. Depois de corrermos uns cinco quilômetros, um de meus amigos avistou um grupo de meninas. Não teve dúvidas. "Vou ficar por aqui", disse ele. E saiu correndo –em direção a elas. Nós continuamos, mantendo o ritmo. Já no centro da cidade, comecei a cansar. Uma senhora, que assistia à corrida da sacada de sua casa, viu minha situação e me atirou um balde de água. Apesar do susto, me recuperei e consegui completar o trajeto. Antes disso, vi muita gente parar de correr, procurar alguém com um rádio, ou alguma lanchonete com TV, para saber quem havia ganho a prova. Fomos, depois, para uma festa de Ano Novo. Lá estava aquele meu amigo que abandonou a corrida –acompanhado pelas meninas que causaram o abandono. Prova que correr na São Silvestre também é, no fundo, uma festa. *LUIZ FERNANDO PETERSEN BARRETO, 26, é comerciante e deu depoimento ao repórter Mauro Tagliaferri Texto Anterior: São Silvestre testa domínio africano Próximo Texto: Corredores têm 3 opções na prova Índice |
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