São Paulo, sábado, 31 de dezembro de 1994
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Corredores têm 3 opções na prova

VALDENOR DOS SANTOS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Quem compete na corrida de São Silvestre precisa, logo de início, saber o que quer da prova: vencer, subir ao pódio ou, simplesmente, correr bem.
Quem correr bem, chegará, tranquilo, inteiro, sem se desgastar, entre os 20 ou 30 primeiros colocados.
Os que pretendem subir ao pódio –ou seja, chegar até o sexto lugar– fazem uma corrida mais estratégica. Não se preocupam se os líderes abrirem distância e mantêm um ritmo confortável.
São estes corredores que guardam fôlego para os últimos três quilômetros e que tentam se aproveitar de um erro ou do desgaste dos adversários.
Mas há os que, como eu, querem a vitória. Isso significa, sem dúvida, realizar uma corrida arriscada, em que você não pode deixar o rival fugir, sob pena de não alcançá-lo mais.
As dificuldades começam na descida da Consolação. É a parte mais crítica da prova. O pessoal tende a descer num ritmo alucinante, o que força muito a musculatura e pode provocar dores no resto da corrida.
E é difícil tentar manter um ritmo mais cadenciado porque, quando você corre para vencer, acaba se assustando ao ver um adversário se distanciar. A tendência é ir atrás dele.
Os quenianos, por exemplo, disparam ali. Não sei bem por que, mas eles não gostam de correr ao lado de outros competidores, querem estar à frente.
Esse modo de correr revela que eles estão realmente bem preparados –ou, então, adotam uma estratégia arriscada.
Acabada a descida, começa um trecho agradável, de aclives e declives mais suaves.
O elevado Costa e Silva é outro pedaço fundamental. Ali, já se define quem tem chances de vencer.
O décimo quilômetro também é importante, principalmente do ponto de vista psicológico. Nesse ponto, o atleta sabe se terá condições de chegar bem ou não.
Mas, a definição mesmo é na subida da Brigadeiro. Além do desgaste que você acumula ao longo da corrida, há um impacto psicológico.
Ver aquela subida toda, com o público te aplaudindo e esperando um bom resultado de você, assusta.
Normalmente, os dois primeiros duelam na subida. Da terceira à quinta colocações também se definem ali. E quem correu com uma boa estratégia e se poupou, tem chances de encostar nos líderes.
É também o local onde o atleta mais sofre.
Sei que, querendo vencer, optei pelo caminho mais difícil. Mas esta é a emoção que escolhi. Vencer, mesmo sofrendo.

VALDENOR PEREIRA DOS SANTOS, 25, é corredor e deu depoimento ao repórter Mauro Tagliaferri

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Sobre a São Silvestre nas págs. 3, 4 e 6

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