São Paulo, sábado, 31 de dezembro de 1994
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Weffort quer criar congresso para discutir cultura no país

LUIZ ANTÔNIO RYFF
DA REPORTAGEM LOCAL

O futuro ministro da Cultura, Francisco Weffort, quer organizar um congresso da cultura, reunindo os vários setores para uma discussão sobre a questão no país. A idéia é que o congresso funcione como um fórum, durante alguns dias, com agendas específicas.
O futuro ministro recebeu a proposta durante uma visita a Porto Alegre. "É bem interessante. Vamos botar os agentes culturais das mais diferentes áreas em contato." Ele diz que o congresso precisa ser organizado em comissões. E defende a elaobração de "papers" sobre os temas.
Weffort reafirmou que seu paradigma de administração será a gestão do ex-ministro da Cultura francês, Jack Lang. "Cultura é questão de Estado", disse, ressaltando que isso não significa estatismo.
Para Weffort, o papel do Estado é "abrir a cultura para a sociedade e para o mercado". Falta explicar a maneira como isso será feito.
Ele afirmou que lutará pela inplantação da Lei de Reserva de Tela –que garante uma cota de exibição para os filmes nacionais. Ele também defendeu o controle do número de espectadores de filmes no Brasil.
Weffort ainda não definiu o segundo escalão do ministério –o que deve ocorrer no final de janeiro. Ele defende a continuidade. "Não vejo porque mudar um time que está funcionando bem", diz.
Na quinta-feira, Weffort se reuniu com cerca de 100 profissionais do cinema no Museu da Imagem e do Som. O encontro foi pedido por Weffort para conhecer os principais problemas do setor. Uma reunião idêntica foi realizada na semana passada no Rio.
Entre muitas críticas ao governo Collor, os cineastas pediram normas que ampliem o espaço destinado a filmes brasileiros nas TVs, dispositivos que garantam a menor distribuição dos filmes nacionais e a criação de comissões para discutir a situação do cinema.
Houve quem pedisse a preservação das cinematecas brasileiras e as conjuntas para o Mercosul.
O autor de novelas Walter George Durst discorreu sobre as dificuldades de fazer cinema no Brasil. "Durante toda a minha vida tentei fazer cinema. Não consegui e fui para a televisão", disse.
Durst disse que a discussão e a análise feita pelo ministro seriam mais úteis em outros locais. "O senhor deveria falar isso para empresários. Eles é que deveriam saber a importância da cultura. A gente já sabe", disse.
Com bom humor, Durst questionou a validade do encontro. Ele lembrou que fez parte de uma comissão que foi pedir a Juscelino Kubitschek apoio ao cinema.
"Gostaria que essa reunião tivesse uma novidade. Fosse realista. Que no final a gente dissesse: Olha, não tem solução", disse causando risos.
O encontro com Weffort animou a maioria dos artistas. "Eu sinto firmeza. Há boas intenções, mas por enquanto é papo", resumiu o ator Sérgio Mamberti.
Antes da reunião com o novo ministro da Cultura, os cineastas se encontraram com o atual, Luiz Roberto Nascimento e Silva e com o ministro Ciro Gomes (Fazenda). Na véspera de deixarem os cargos, os dois assinaram uma medida reduzindo os impostos de importação e sobre produtos industrializados que recaíam sobre insumos e equipamentos cinematográficos.

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