São Paulo, sexta-feira, 4 de fevereiro de 1994
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Não há mais o que negociar, diz FHC

SÔNIA MOSSRI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, disse ontem que não tem vocação para "cozinheiro" e que não vai adotar a política econômica do "feijão com arroz" caso o Congresso não aprove o pacote fiscal. FHC já confidenciou a parlamentares que não pretende ficar no cargo apenas para administrar a crise econômica até o posse do sucessor do presidente Itamar Franco, repetindo a experiência de Mailson da Nóbrega na Fazenda, durante o último ano do governo Sarney. Segundo o ministro não há mais o que negociar com o Legislativo.
"Eu não sou cozinheiro. Não sei fazer feijão com arroz", disse FHC à Folha, depois de almoçar ontem com o senador José Richa (PSDB-PR) e com o líder do PSDB na Câmara, José Serra (SP). O ministro também avisa aos parlamentares que não vai lotear cargos das empresas estatais e liberar verbas na busca de apoio à aprovação do Fundo Social de Emergência (FSE).
Ao contrário de segmentos do próprio governo, FHC criticou a defesa de antecipação das eleições de outubro como alternativa à crise enfrentada pelo Executivo com o Congresso em função do pacote fiscal. O ministro considera que não há mais o que negociar com o Congresso em torno da emenda constitucional do FSE.
Fisiologia
"Nós não fazemos isso. Não adianta vir com esse tipo de conversa porque não é a nossa decisão. Não é o nosso estilo", comentou FHC sobre a tentativa de parlamentares em trocar o voto favorável ao ajuste fiscal por cargos ou verbas públicas. A equipe da Fazenda atribui a parlamentares do PMDB, PTB e PPR o maior movimento em torno do "é dando que se recebe".
Depois de quase duas horas de almoço no apartamento de Richa, que o presenteou um uma garrafa de uísque, FHC repetiu que o congelamento de preços não funciona mais. Reservadamente, a equipe econômica teme que o presidente Itamar peça um novo Plano Cruzado se o Congresso não aprovar o ajuste.
"Não creio que seja possível eu mudar de rumo. Se o país achar melhor fazer congelamento, tomar dinheiro da poupança e dar calote na dívida externa, aí o país terá outro ministro", disse FHC. Em conversas com parlamentares do PSDB, o ministro não se mostrou otimista com relação à aprovação da emenda constitucional que cria o FSE antes do Carnaval.
Fernando Henrique avalia que a votação da emenda constitucional depois do feraido aumentaria ainda mais o desgaste do governo. Além disso, ele acha que as pressões de parlamentares para trocar cargos e verbas públicas pelo apoio ao pacote fiscal aumentariam.

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