São Paulo, sexta-feira, 4 de fevereiro de 1994
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Ministro critica atitude do Congresso

GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O ministro Fernando Henrique Cardoso atacou o Congresso ontem, criticando a falta de quórum sistemática, que tem atrasado a votação das medidas do plano econômico do governo. Dizendo que os parlamentares estão sem "energia para tomar decisões", ele chegou a sugerir a convocação de uma assembléia revisora exclusiva, para superar os impasses em torno da revisão constitucional.
Os ataques de FHC ao Congresso começaram cedo, em uma entrevista coletiva que concedeu em sua casa, logo pela manhã. Na noite de quarta-feira, a falta de quórum e a obstrução comandada pelo PPR tinham impedido que o Congresso revisor votasse a emenda de criação do FSE (Fundo Social de Emergência), fundamental para o plano econômico. FHC disse que havia "um impasse político" na votação do plano econômico pelo Congresso. Ele abandonou o tom ameno para falar da derrota da noite anterior. "Eu não vejo energia no Congresso para tomar decisões, e isso é grave", disse.
Embora negando ter dito que deixaria o governo, FHC não foi enfático sobre sua permanência no cargo: "eu costumo comentar com o presidente que a gente não é ministro, está ministro". "Essa é uma questão menor, um ministro não é indispensável", acrescentou.
Segundo o ministro, o plano econômico está "ensanduichado" na revisão. Em outras palavras, partidos favoráveis à revisão não querem votar o plano –caso do PPR– enquanto partidos de esquerda que poderiam votar a favor do plano são contrários à revisão.
Outra preocupação do ministro foi voltar a negar sua candidatura à Presidência."Não é nada disso, sou candidato a ajudar a resolver esses problemas". Leia a seguir os principais trechos das entrevistas:

SAÍDA DO CARGO"Eu costumo dizer ao presidente Itamar: A gente não é ministro, está ministro. A questão não é se um ministro vai pedir demissão, isso não resolve, é uma questão menor. Isso depende do presidente. Não estou em choque com o governo. O choque é outro, é do Congresso com o país."

PLANO "Tivemos absoluta transigência. Acho que nenhum ministro jamais foi ao Congresso tantas vezes como eu fui, para falar com todas as bancadas."
"Há um enorme desespero da sociedade, que evidentemente está precisando de alguma coisa, porque a inflação não pode continuar no nível que está."

CONGRESSO "Eu não vejo energia do Congresso para tomar decisões, e isso é grave. Alegar briga do PMDB com o PSDB é um pretexto. O PMDB na verdade correspondeu, o líder foi muito eficaz, tanto o do governo (que é do PMDB) quanto o do PMDB. Não foi por aí, é mais amplo do que isso."

FALTA DE QUÓRUM "Eu pergunto: é disso que o Brasil precisa? Que esteja o governo, o ministro, a pressionar o deputado, telefonar, pedir (para ele comparecer às sessões)? Evidentemente, como esse governo não é franciscano - no sentido de "é dando que se recebe' - esse não nosso sentimento. Será que o Congresso, composto de gente madura, não sabe que seu dever é votar? Não é isso, não. Eles estavam presentes (às sessões). Não quiseram."

ASSEMBLÉIA REVISORA "Eu tenho conversado com meu travesseiro, que é um mau conselheiro, e pensado: Quem sabe não era o caso de convocar uma Assembléia Nacional Revisora específica? O Brasil não pode esperar. Falta quanto tempo para as eleições? E eles vão fazer a revisão quando? Com outro presidente? Quem vai ser o outro presidente?"

CANDIDATURA "Tenho responsabilidade com o país, não sou pessoa de agir pensando no meu interesse pessoal. Tenho dito isso reiteradamente, mas fazem a infâmia de dizer que sou candidato. Não é nada disso. Já disse um milhão de vezes: sou candidato a ajudar a resolver esses problemas. Não vou tomar nenhuma decisão que prejudique o Brasil."

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