São Paulo, sexta-feira, 4 de fevereiro de 1994
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Fazenda tem quatro opções para moeda

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

O Ministério da Fazenda tem hoje quatro opções para introduzir uma nova moeda com o propósito de derrubar a inflação. Todas apresentam vantagens e desvantagens e aí está a origem das confusões. Nenhuma é claramente superior. Pelas informações disponíveis até o momento, o ministro Fernando Henrique Cardoso ainda não definiu sua alternativa.
Na primeira opção, o governo cria a Unidade Real de Valor, URV, como um indexador atrelado ao dólar. O Banco Central dá a cotação diária da URV em cruzeiros reais. A URV será calculada como hoje é calculado o dólar comercial e terá variação paralela.
Paulatinamente, o governo converte para URV os preços que controla, como o das tarifas públicas. E propõe ao Congresso a converso do salário mínimo, do salário do funcionalismo e dos benefícios da Previdência. Fazendo essas conversões pela média, o governo indica um caminho para a sociedade.
No setor privado, as conversões serão voluntárias. A base desta proposta é que as pessoas vão aderir naturalmente à URV, dada sua estabilidade e confiabilidade. Decorre daí que precisa deorrer um longo tempo -um ano, por exemplo- para que o indexador mostre-se confiável.
Esta proposta corresponde às primeiras manifestações da equipe econômica, inclusive o que está escrito no documento Programa de Estabilização, de 7 de dezembro último.
O risco desse caminho é que se constitui numa novidade teórica. O governo estará induzindo toda a sociedade a partir para um indexador diário, (os preços em cruzeiros mudariam todo dia) com o que dispara a inflação em cruzeiros. Ou seja, o governo teria de manter a estabilidade da URV e controlar uma hiperinflação em cruzeiros.
Além disso, a convivência URV-cruzeiros reais não é simples, especialmente para serviços de uso diário. A passagem de ônibus, por exemplo, subiria todo dia em cruzeiros.
E tudo isso por um período que inclui a eleição e posse de um presidente, que precisará estar comprometido com o plano.
Essas dificuldades, que surgiram desde o lançamento da idéia, estimularam economistas e governo a buscar caminhos mais rápidos.
É o caso da segunda opção, uma versão mais apressada da primeira hipótese. O governo cria a URV e estabelece um prazo de três a quatro meses para que a sociedade negocie conversões voluntárias. E anuncia, no momento mesmo da criação do indexador, que a partir de determinada data a conversão será obrigatória, conforme regras predeterminadas.
Dando um tempo para os acertos, FHC cumpre a promessa de que será tudo voluntário. Mas na segunda fase, a conversão obrigatória exige regras de conversão, tablita e possivelmente um congelamento para impedir especulação na nova moeda. E isso é um choque com data marcada. Mas é uma vantagem deixar todos os passos definidos desde o momento de lançamento do plano.

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