São Paulo, domingo, 6 de fevereiro de 1994
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Corretor britânico prevê ano turbulento

ANTONIO CARLOS SEIDL
DA REPORTAGEM LOCAL

"Má visibilidade, com sinais de uma tempestade iminente", esta é a "previsão do tempo" para as Bolsas de Valores brasileiras em 1994 feita por Stephen Rose, presidente da Stephen Rose & Partners, única corretora da "City", o mercado financeiro de Londres, especializada exclusivamente no mercado brasileiro.
Rose, cuja corretora mantém um volume mensal de investimentos de US$ 50 milhões nas Bolsas brasileiras, falando sobre as perspectivas do mercado de ações do país no encerramento da 3ª Conferência Européia sobre Investimentos Institucionais no Brasil, semana passada, em Londres, disse que a atual euforia nas Bolsas "dificilmente será sustentada" nos atuais níveis recordes com o Ibovespa em cerca de US$ 170, em termos da moeda norte-americana.
"Esse nível é baseado na crença de muitos investidores de que os problemas estrutrais da economia brasileira vão ser resolvidos a curto prazo ou que, citando um aforisma norte-americano, podem ver um horizonte dourado do outro lado do vale", disse.
Incertezas
Para Rose, o ano de 1994, marcado pela incerteza política da corrida eleitoral, vai causar euforia e depressão no ânimo dos investidores. "Os efeitos dessas flutuações no mercado serão exagerados pela volatilidade natural da maior parte dos investimentos internos e pela natureza pouco sofisticada de parte dos recursos externos que entraram no mercado nos seis últimos meses", afirmou.
O presidente poderá oferecer uma liderança verdadeira? Sua administração terá suficiente apoio no Congresso para enfrentar e resolver os problemas estruturais que impedem o desenvolvimento do Brasil? Para Rose, essas são as questões fundamentais para o Brasil. "Infelizmente, não saberemos as respostas pelos menos nos próximos seis meses", disse.
Rose deixa claro que não está preocupado com as perspectivas de longo prazo do Brasil. Ele acredita que os brasileiros têm capacidade de eventualmente resolver seus problemas e de realizar o enorme potencial do país.
"Minha preocupação é que, impulsionado em grande parte pelo fluxo de capital estrangeiro especulativo, o mercado de ações brasileiro parece estar concluindo que não há problemas econômicos e políticos e que o país vai velejar serenamente em direção ao seu futuro de ouro', disse.
Rose advertiu que os problemas atuais do Brasil não recomendam essa atitude. "Não há solução fácil", disse.
Esforços
Rose afirmou que os investidores estão "absolutamente certos" em acreditar que há fatores "positivos" no Brasil, tais como a abertura da economia, a reativação da democracia, o fim do isolacionismo econômico, a aceitação da necessidade da redução da burocracia e sobretudo a certeza de que o país tem que mudar.
"A questão é se eles levam em conta os riscos de curto prazo em um mercado que teve altas recordes provocadas mais pela esperança da recuperação econômica do que em conquistas concretas no campo econômico, apesar dos esforços hercúleos do ministro Fernando Henrique Cardoso e sua equipe econômica", disse.

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