São Paulo, domingo, 6 de fevereiro de 1994
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Acesita conhece os lucros aos 49 anos

CARLOS ALBERTO SARDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

Durante 48 anos, a Companhia Aços Especiais de Itabira, Acesita, foi estatal. Teve prejuízo em todos os anos. Em novembro de 1992, a empresa foi privatizada. Fechado o balanço do ano passado, a Acesita contabilizou lucro de US$ 30 milhões.
"E não foi por aumento de preço", apressa-se em explicar o presidente da empresa, Wilson Brumer. De fato, no seu primeiro ano como companhia privada, a Acesita produziu e vendeu mais e melhor, e com menos gente.
O caso pode ser considerado um exemplo ideal de privatização. Primeiro, a Acesita foi bem vendida. Saiu por US$ 450 milhões em moedas de privatização, as "podres", algo equivalente a US$ 225 milhões em dinheiro bom.
Em segundo lugar, o Banco do Brasil, que era o dono da siderúrgica, livrou-se de um prejuízo acumulado de US$ 600 milhões, sendo US$ 100 milhões no balanço de 1992, o último como estatal.
Em terceiro, a propriedade da Acesita privatizada ficou pulverizada entre 40 fundos de pensão, 70 bancos e cerca de 100 corretoras ou distribuidoras. E finalmente, com diretoria profissional, a empresa ficou enxuta, ágil e lucrativa. Vale hoje US$ 750 milhões, três vezes mais do que no momento da privatização.
A diretoria comandada por Wilson Brumer, um ex-frentista de posto de gasolina que chegara à presidência da Vale do Rio Doce, a mais privada das estatais brasileiras, atacou todos os problemas da Acesita ao mesmo tempo. Uma consultoria da empresa americana APC Skill mostrou os problemas de organização e de excesso de pessoal. Em fevereiro do ano passado, três meses depois de privatizada, a Acesita abriu o programa de demissões voluntárias. Em cinco dias, saíram 1.800 pessoas, a um custo imediato de US$ 20 milhões. Mas representando uma economia permanente de US$ 22 milhões/ano.
A reestruturação havia começado por cima. Em vez de 240 gerentes, a siderúrgica passou a funcionar com 89. E o número de diretores caiu de seis para quatro. "E sabe por que tinha seis diretores?", pergunta o atual diretor comercial Ivo Pereira. E responde: porque a lei permite que as estatais tenham "até seis diretores". Sempre têm seis.
O endividamento da Acesita era de US$ 220 milhões, sendo que US$ 179 milhões venceriam em 1994. E a taxa de juros cobrada à empresa era de escorchantes 38% ao ano. De novo, a causa disso era a condição de estatal. Uma renegociação reduziu a dívida para US$ 153 milhões, com vencimentos escalonados para os próximos três anos, e com taxa de juros real de 13% ao ano. Uma redução de 25 pontos percentuais, equivalente a uma economia anual de US$ 63 milhões.
Outros US$ 9 milhões/ano foram economizados com a renegociação de contratos com os fornecedores. Ocorre que os cartórios não recebem títulos de estatais para protestar. Assim, os fornecedores colocam no preço uma margem alta por conta de atrasos. Além disso, os procedimentos de compra em uma estatal, com licitações, tomadas de preços, formulários complexos a serem preenchidos pelos fornecedores, encarecem a operação. Tudo isso foi eliminado e todos os fornecedores reduziram preços.
Tudo isso somado dá uma economia de US$ 94 milhões, praticamente igual ao prejuízo que a siderúrgica tivera em 1992. Assim, já em abril de 1994, cinco meses depois de privatizada, a Acesita passou a ter lucro.
Ao final de 1994, todos os indicadores melhoraram. A produtividade subiu 60%. A produção cresceu 13,2%, de 590 mil para 668 mil toneladas de aços planos e não planos. As vendas subiram mais, 18%, indicando que a empresa reduziu estoques.

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