São Paulo, terça-feira, 8 de fevereiro de 1994
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Europa dá apoio para ataque aéreo em Sarajevo

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

A União Européia (antiga Comunidade Européia) decidiu ontem apoiar ataques aéreos na Bósnia-Herzegóvina para romper o cerco a Sarajevo. A decisão foi tomada dois dias depois de um bombardeio que matou pelo menos 68 pessoas em um mercado no centro da capital bósnia.
O presidente dos EUA, Bill Clinton, disse apoiar o pedido feito anteontem pelo secretário-geral da ONU, Boutros Boutros-Ghali, para que a Otan se prepare para iniciar os ataques aéreos. Os norte-americanos e a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte, a aliança militar ocidental liderada pelos EUA) ameaçaram lançar ataques contra a artilharia sérvia-bósnia pela primeira vez em agosto do ano passado, em tese para defender as cidades muçulmanas sitiadas que a ONU declarou como "zonas protegidas". A ameaça foi repetida no mês passado, agora para proteger as próprias tropas da ONU, mas Washington insistia no apoio dos europeus antes de qualquer operação.
Já a Rússia, tradicional aliada dos sérvios, pode tentar bloquear a operação na ONU. O chanceler russo, Andrei Kozirev, disse que ataques aéreos vão apenas contribuir para uma escalada da violência na ex-república iugoslava. Para Kozirev, o ataque de sábado "foi uma armadilha que pode provocar a repetição do trágico episódio que desencadeou a Primeira Guerra Mundial". Em 1914, o assassinato em Sarajevo do arquiduque Francisco Ferdinando, herdeiro do trono áustro-húngaro, desencadeou a Primeira Guerra Mundial.
Os norte-americanos, que devem entrar com a maior parte do poderio aéreo nos eventuais bombardeios contra a artilharia sérvia-bósnia, inciaram ontem em Bruxelas consultas com seus aliados da Otan. A aliança deve realizar uma reunião formal amanhã.
O secretário norte-americano de Estado, Warren Chirstopher, disse que o ataque de sábado segue o padrão dos bombardeios sérvios-bósnios contra alvos civis. Ele admitiu, porém, que não há provas definitivas de que foram os sérvios-bósnios os responsáveis pelo ataque. O Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos se reuniu ontem em Washington para discutir a situação na Bósnia.
O líder dos sérvios-bósnios, Radovan Karadzic, reagiu às ameaças ocidentais afirmando que nenhum estrangeiro estará seguro na Bósnia caso a Otan lance os ataque aéreos. "Vamos nos defender com tudo o que temos. Acho que, se ocorrerem ataques aéreos, perderemos parcialmente o controle e poderá haver caos. Isso quer dizer que os estrangeiros não estarão seguros na Bósnia."
Em uma última tentativa de evitar os ataques aéreos, lideranças sérvias-bósnias admitiram a negociação de um acordo em separado para Sarajevo. Ele incluiria a desmilitarização da capital da Bósnia-Herzegóvina.

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