São Paulo, terça-feira, 8 de fevereiro de 1994
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Sarajevo, com medo, faz enterros só à noite

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Sarajevo viveu ontem um dia de enterros. Enquanto sérvios iam a pequenos cemitérios, a maioria das famílias muçulmanas, com medo de franco-atiradores, foi obrigada a esperar o anoitecer para sepultar vítimas do bombardeio de sábado. Num cemitério sérvio, uma mulher enterrava o marido ao lado de duas crianças que sepultavam a mãe.
Pelo menos 86 feridos haviam sido levados até a noite de ontem para tratamento na Europa Ocidental. Em Ancona, base italiana dos vôos de ajuda humanitária da ONU para Sarajevo, Vlado Rajcevic, 10, ferido nos pulmões, lutava pela vida ligado a um respirador artificial. Levado para Ancona pouco depois do bombardeio de sábado, ele só foi encontrado por seus pais no dia seguinte.
Danilo e Rezina Rajcevic são surdos e só descobriram o paradeiro do filho ao mostrarem uma foto dele aos soldados das forças de paz da ONU. Levados para Ancona no domingo, eles só conseguem se comunicar com os médicos por meio de bilhetes.
Ontem, mais 21 feridos foram levados de avião para Ancona. O caso mais grave é o de Mihad Kapo, 13, levado para o Hospital Infantil Salesi. Médicos disseram que ele está em coma, com um fragmento de granada na cabeça. Dos 21, 10 foram feridos no bombardeio de sábado. Os outros, em ataques anteriores. Médicos da Cruz Vermelha Italiana informaram que mais feridos serão levados hoje para Ancona.
Outros 50 feridos foram levados para tratamento em uma base militar norte-americana na Alemanha. Desses, quatro estão em unidades de tratamento intensivo, entre eles uma menina de 16 anos que terá uma perna amputada. Outros 127 permaneciam internados em dois hospitais de Sarajevo, a maioria em estado grave.

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